Henry Barclay (34), Marco Azeredo (35) e Thomaz Vidal (33). Três amigos com formação em administração de empresas e cansados da rotina no mercado financeiro, mas com um desejo em comum: empreender no mercado artístico e de design. Essa é apenas uma parte da história que deu origem a Boobam – marketplace cujo objetivo é ligar artistas, estúdios e designers diretamente aos seus compradores. A iniciativa, que foi ao ar em março deste ano, também promete gerar valor e divulgar o melhor do design brasileiro contemporâneo.
A ideia da Boobam surgiu em 2012, quando Barclay enfrentou dificuldades em decorar seu novo apartamento, e ganhou corpo com as experiências familiares dos próprios sócios – filhos de artistas. “Comprar em galerias era caro, feiras e eventos eram escassos, e nas lojas online era difícil achar trabalhos legais”, detalha o empresário no descritivo da plataforma de compras, reforçando que a maioria dos artistas independentes parecia estar fora do alcance.
Thomaz Vidal, também sócio fundador e que concedeu entrevista exclusiva ao Habitus Brasil, acrescenta: “Acompanhamos as insatisfações de nossos pais com as opções de venda disponíveis no Brasil e começamos a perceber que nossos amigos artistas também tinham as mesmas frustrações”.
Mas a concepção final da plataforma, explica Vidal, só ocorreu entre novembro de 2015 e março de 2016 – quase três anos após o nascimento da ideia e após dois sites abandonados. “Nenhum de nós sabia programar e as contratações para o desenvolvimento do site não foram frutíferas”, conta.
É aqui que entra em cena o programador e, agora, também sócio, Fernando Val. “Com sua experiência bem-sucedida no Hotel Urbano ele nos ajudou a criar e programar, dentro de uma plataforma própria, cada página da Boobam”.
Boobam – marketplace de arte e design
O trabalho de corpo a corpo dos sócios, visitando estúdios e profissionais, permitiu que a Boombam fizesse sua estreia com 48 lojas e cerca de 300 produtos em oferta. A variedade é enorme. Vai de móveis como bancos, buffets, estantes, mesas, poltronas e sofás, entre outros, a luminárias, objetos e artigos de decoração.
“Tivemos um grande trabalho de campo para apresentar a ideia aos designers e artistas, demonstrando as vantagens que um marketplace traria para suas obras e posicionamento no mercado”, explica Thomaz Vidal.
No modelo adotado pela marca, cada artista administra a sua própria loja e fica responsável pela entrega – sob consultoria da Boobam – e atualização de seus produtos. Os profissionais também ficam responsáveis pela escolha do nome e descrição das peças, quantidade de produtos da sua loja, política de preço, cadastro de fotos e prazos de entrega.
Vale destacar, cada artista pode negociar o prazo em comum acordo com o cliente. “Sabemos que a logística é um dos grandes gargalos do país, e há peças que exigem um elevado grau de cuidado, além de maior tempo de produção”, diz Vidal. A plataforma se remunera com 20% do valor das vendas efetivas de cada artista – que leva os outros 80%, sem custos adicionais.
Hoje, são 89 lojas e mais de 600 produtos disponíveis para compra
Designers, estúdios e artistas
“Não somos uma loja ou um e-commerce tradicional. Somos o conjunto de várias lojas independentes”, observa Thomaz Vidal. De fato, a Boobam opera com lojas comandadas por expoentes do design contemporâneo, como Studio Zanini, Paulo Alves, Gustavo Bittencourt, Oficinaethos, 80e8, Lattoog, Carol Gay, Brunno Jahara, Inês Schertel, Lattoog, Leo Capote, Sérgio J Matos, entre outros.
Todos os profissionais participam da iniciativa gerindo suas próprias lojas virtuais. Conheça o matketplace e uma pequena amostra dos produtos à venda.
Entre os mais de 600 móveis, luminárias e acessórios disponíveis encontramos a poltrona Bodocongó, de Sérgio J Matos, e a Poltrona Skate, do Studio Zanini, que surge do conceito de utilização de objetos não convencionais no design de mobiliário. Já o Banco Memórias é uma produção de Maria Fernanda Paes de Barros para a Yankatu – Design com Alma. A peça é feita com Freijó maciço e os tecidos utilizados são feitos em tear manual a partir de fios de algodão tingidos com produtos do pomar da artesã. Tanto as cores como os desenhos não se repetem e apresentam irregularidades típicas do processo de produção.
Boobam – uma grande vitrine online
Entre as peças disponíveis, por exemplo, temos o Banco Seda de Guto Requena. Submetidas a um processo de “hackeamento”, as peças receberam a adição de pés-bolas de madeira desenvolvidos para elevarem o banco em 10 cm de altura. Em seguida, os bancos são vestidos com um novelo de seda primitivo, tecido por bichos da seda cultivados no Sul do Brasil e tingidos com material orgânico, como cebola, beterraba e terra.
Outras opções são o criado mudo da linha interseção pela Jabuticasa. Suas funções alternam porta-objetos, gaveta, suporte tradicional e um encaixe para acomodação de fios, carregadores de celular e outros penduricalhos.
A luminária Halter, do estúdio Mula Preta, inspirada no formato simétrico do halter, também está à venda na Boobam, assim como o Aparador Veredas, numa parceria entre as designers Clarisse Romeiro e Natasha Schlobach, e a Mesa lateral ou de centro Elisa, de Paulo Alves (foto abaixo). Reconhecido pelo trabalho com a madeira, essa peça é confeccionada em compensado de reflorestamento de Paricá e laminado melamínico no tampo. Os cantos são fresados para ressaltar as camadas de madeira que compõem a peça.
Curadoria e design assinado
“Nosso objetivo é concentrar esses talentos em um HUB e cada estúdio e designer tem 100% de liberdade criativa para produzir e vender seus trabalhos como quiser. Por isso, não exigimos contrato de exclusividade”, ressalta Vidal durante a entrevista.
Contudo, há um trabalho de curadoria da Boobam com foco no design e criação de percepção de valor do design assinado. “Não temos a pretensão das galerias de arte, de julgar os trabalhos, mas almejamos artistas e designers que sejam referência em produtos de qualidade, criatividade e bom gosto”.
Thomaz pondera ainda que o padrão de qualidade e de apresentação do mobiliário e demais peças, sejam eles de profissionais renomados ou ainda pouco conhecidos, é essencial. “Isso permite que todos se sintam confortáveis em ter os seus trabalhos expostos juntos”.
“Existem centenas de artistas talentosos no Brasil. Não precisa ser tão difícil chegar até eles!”
Vender arte e design
Segundo a Boobam, durante o trabalho de pesquisa antevendo o lançamento, algumas insatisfações entre designers foram constantemente citadas. Entre as principais queixam estão: markups elevados em lojas físicas e também em lojas online; os contratos de exclusividade; necessidade de colocar produtos em consignação; além da falta de identificação dos artistas e designers com os conceitos e mix de produtos das lojas.
“Na outra ponta, vemos muitos compradores frustrados com os preços elevados praticados pelas lojas e galerias, e a dificuldade de chegar até os artistas”, pontua Vidal, chamando atenção para um ponto importante. “Não é só o produto físico que chama a atenção do comprador, mas também a história de cada artista e peça. É isso que faz ele ser único e admirado”.