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Todos reconhecem a importância da educação, mas poucas vezes relacionam a qualidade de ensino com a arquitetura escolar. Isso não acontece por acaso. Realmente o assunto costuma ser pouco debatido. Muito se fala sobre o aprimoramento das propostas pedagógicas, mas e as construções? E os interiores das salas e áreas de convivência? E o mobiliário? Certamente os ambientes também precisam ser adequados para atender às mudanças na educação.

A pouca abordagem sobre o tema não acontece apenas no Brasil. Um relatório elaborado pelo Royal Institute of British Architects (Riba), teve por objetivo sanar essa lacuna sobre arquitetura escolar com estudos e entrevistas nas escolas do Reino Unido. Os resultados, além de interessantes, podem apontar caminhos para a arquitetura em outros países.

 

Projetos adequados e arquitetura escolar podem ter impacto positivo na assimilação do ensino e aprendizagem das crianças

 

Benefícios da boa arquitetura escolar

O relatório “Better spaces for learning”, melhores espaços para aprender (em tradução livre), mostra que escolas confortáveis e bem planejadas exigem investimento mais baixo de construção e menor custo de manutenção. Os dados apresentados também ligam a arquitetura escolar à qualidade da educação. Estima-se que o impacto positivo na produtividade do ensino e aprendizado ganhe um incremento de até 15% quando os espaços são melhores projetados.

Além disso, os professores entrevistados também disseram que um bom ambiente incentiva um melhor comportamento dos alunos e colabora, inclusive, para reduzir os níveis de bullying. Aliás, a redução de atos agressivos, verbais ou físicos, intencionais e repetidos, é uma das principais bandeiras nas escolas atualmente, no Brasil e no exterior.

“Bom design não é apenas aparência. É sobre resultados positivos e economia de recursos” – Riba

 

Arquitetura: pontos para um bom projeto

Confira os principais pontos para a construção de um bom projeto de arquitetura escolar. Os tópicos sugeridos levam em consideração as entrevistas e estudos presentes no relatório Better spaces for learning, do Riba.

 

Confira os principais pontos para a construção de um bom projeto de arquitetura escolar, segundo o relatório Better spaces for learning, do Riba

 

Arquitetura escolar no Brasil

A arquiteta e professora da Unicamp, Doris Kowaltowski, é uma das defensoras para que os projetos sejam revistos. “Defendo um processo participativo da comunidade escolar junto com os arquitetos, com o envolvimento de todos, para debater como deve ser a nova escola”, afirma.

Para a profissional e autora do livro “Arquitetura Escolar: o projeto do ambiente de ensino”, o projeto arquitetônico precisa dialogar diretamente com o projeto pedagógico da escola. Em entrevista para o Portal Aprendiz, ela ressaltou que cada aprendizado exige um ambiente apropriado. Por isso, as salas de aula deveriam oferecer mais flexibilidade para o professor poder alterar o ambiente de acordo com as atividades propostas.

A arquiteta também lança um questionamento sobre o mobiliário utilizado nas escolas. “Os alunos são diferentes, alguns menores outros maiores e têm necessidades diversas. Por que não oferecer mobiliário variado? Infelizmente ainda não chegamos nesse nível de discussão”, pondera.

 

Mobiliário: estímulo e pertencimento

Um case interessante de integração entre mobiliário e arquitetura escolar vem de Madri, na Espanha. O projeto do RICA Studio para a escola “English for Fun” (Inglês para Diversão) contempla a ideia de que cada criança é especial e única. A instituição utiliza um método de ensino que prioriza a criatividade e a imaginação, além de estimular todos os cinco sentidos no aprendizado.

Com este método, as crianças adquirem o inglês sem esforço, participando de atividades recreativas e explorando tópicos de grande interesse em oficinas práticas projetadas, e que se utilizam do mobiliário projetado.

 

O corpo de arquitetos do RICA Studio, comandado por Iñaqui Carnicero e Lorena del Río, projetou “paredes habitáveis”. Chapas de aço dobradas fornecem a estrutura da parede, para abrigar nichos diversos e móveis

 

O corpo de arquitetos do RICA Studio, comandado por Iñaqui Carnicero e Lorena del Río, projetou “paredes habitáveis”. Chapas de aço dobradas fornecem a estrutura da parede, para abrigar nichos diversos e gavetas modulares de madeira. Elas também são utilizadas para armazenar e exibir o trabalho das crianças.

As crianças também podem se acomodar nessas estruturas e puxar outros móveis das paredes. Assim, cadeiras, mesas e armários também se encaixam na estrutura quando não em uso, facilitando a reorganização do layout da sala de aula. “A resposta foi propor um tabuleiro, onde todos os objetos envolvidos no processo de jogos e aprendizagem pudessem ser armazenados. O trabalho também permite que as crianças sintam que fazem parte desse universo”, detalha o escritório de arquitetura.

 

As crianças também podem se acomodar nessas estruturas e puxar outros móveis das paredes. Assim, cadeiras, mesas e armários também se encaixam na estrutura quando não em uso

 

Benchmarking no setor de arquitetura

Uma pesquisa também nos oferece outros bons exemplos de escolas, incluindo o Brasil. Sim, há instituições que se destacam por integrar o ambiente com suas necessidades e propostas pedagógicas, transformando a forma como os alunos aprendem.

De Aarhus, na Dinamarca, temos a Escola Frederiksbjerg, projetada por Henning Larsen Architects e GPP Architects, em 2016. A escola incentiva as atividades físicas com terraços e ensino ao ar livre. No átrio central interno, por exemplo, há uma parede de escalada, muitos espaços de convivência e salas flexíveis.

 

Exemplo de arquitetura escolar voltada ao futuro, a escola dinamarquesa Frederiksbjerg foi projetada por Henning Larsen Architects e GPP Architects Escola Frederiksbjerg tem arquitetura que incentiva a atividade física Escola dinamarquesa Frederiksbjerg, projeto assinado pelo escritório Henning Larsen Architects e GPP Architects

 

Na França, o exemplo vem do Groupe Scolaire Simone Veil. De 2014, quem assina o projeto dessa escola francesa é o Tekhnê Architectes, e o que se destaca é o uso de cores para estimular os alunos. O projeto também prioriza grandes áreas de circulação, aproveitamento da luz natural e espaços que incentivem a interação. Também há diversas intervenções de marcenaria nos edifícios. Veja mais detalhes da obra neste link.

 

Tekhnê Architectes assina o projeto de escola francesa projetada para o futuro Aproveitamento da luz natural é um dos destaques do projeto da Teknê Architectes para escola francesa Ambientes internos da escola francesa Groupe Scolaire Simone Veil

 

Cases brasileiros de arquitetura escolar

Eleito pela Microsoft como uma das 32 unidades de ensino mais inovadoras do mundo, o Colégio Estadual José Leite Lopes está no Rio de Janeiro (RJ). A escola de ensino profissionalizante em tecnologia multimídia é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Educação – SEEDUC e o Instituto Oi Futuro. O projeto incentiva a integração do aluno com a tecnologia. Para isso, as salas apresentam projetos específicos e contam com equipamentos de última geração.

 

Colégio Estadual José Leite Lopes, do Rio de Janeiro, se destaca por sua arquitetura escolar e métodos de ensino Espaços do Colégio Estadual José Leite Lopes incentivam o contato com a tecnologia, propósito de ensino da unidade

 

Em São Paulo, outro bom exemplo vem do Projeto Âncora, que atende 170 alunos em período integral. A escola tem uma filosofia educacional inovadora, inspirada na Escola da Ponte de Portugal. Alunos estudam juntos e aprendem através de pesquisas e projetos – sem salas de aula, muros e hierarquia. Com isso, crianças de todas as idades e níveis de conhecimento ocupam os mesmos espaços e aprendem juntos.

Isso leva a um projeto de arquitetura escolar bem diferente, onde todos os ambientes são voltados ao aprendizado. O Canal Futura preparou uma reportagem especial sobre escolas inovadoras e você pode conhecer o projeto no vídeo abaixo. A escola é gratuita e mantida por meio de recursos privados para alunos da região de Cotia (SP).

“O bom design é uma das poucas ferramentas para alcançar o ‘santo graal’ da política pública. Ou seja, melhores resultados a custo mais baixo” – Riba