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A década de 80 teve importância significativa para o design. Foi nesse período que o design assinado começou a ser difundido no Brasil. O termo surgiu, conforme apontam algumas referências àquela época, como estratégia de marketing e veio para ficar. Até hoje desenho autoral, exclusivo, é sinônimo de móvel especial e a designação foi decisiva para que especificadores brasileiros se destacassem mais e também conquistassem maior projeção internacional.

Foi nessa década também, mais precisamente em 1988, que o dia 5 de novembro começou a ser celebrado como o Dia Nacional do Design.

Isso tudo em meio a um período conturbado no Brasil. O País comemorava a redemocratização e eleições diretas para presidente após a ditadura militar. A cultura estava em efervescência após anos de censura. Porém, na economia as coisas não iam bem. O País estava estagnado e sofria grave crise econômica.

 

Nos anos 80 a decoração era marcada pelo excesso

 

Na decoração, tudo representava excesso. Muita cor, carpetes, tapetes com desenhos geométricos e papel de parede pela casa toda. Nos móveis brasileiros, a madeira nacional e a marcenaria artesanal estavam em alta e as peças assumiam um design mais simples, em contraposição ao exagero que as cercava no interior das residências.

Aliás, esse excesso também estava na moda. Saias balonê, ombreiras e mangas bufantes. Os cortes de cabelo tinham bastante volume, além do uso de gel. Até a maquiagem pedia cores fortes e intensas. Tudo era marcante!

 

Design assinado

É claro que existem muitos personagens que marcaram época no segmento moveleiro, de arquitetura e design na década de 80, mas uma pesquisa do Habitus Brasil traz quatro nomes em especial: Fulvio Nanni Jr. (1952-1995), Zanine Caldas (1919-2001), Lina Bo Bardi (1914 -1992) e Carlos Motta, que até hoje faz sucesso com suas obras.

 

Quatro designers de móveis influentes no Brasil na década de 80. Lina Bo Bardi, Carlos Motta, José Zanine Caldas e Fulvio Nanni Jr.

 

Fulvio Nanni Jr.

Falando em anos 80 e design assinado não se pode deixar de incluir Fulvio Nanni Jr., que em 1981 criou a Nanni Movelaria, em São Paulo. Ele foi um dos primeiros a apostar no desenho autoral e em ter um espaço de comercialização. A loja seguiu até 1995 – fechou por conta do falecimento de Fulvio – e apresentava as peças criadas, como mesas, aparadores, poltronas, estantes e sofás, além de móveis de outros designers.

Fulvio se formou em desenho industrial e viveu durante 10 anos na Itália, onde fez especialização em Milão e trabalhou com o designer Gianfranco Frattini. Entre suas peças mais conhecidas está o criado mudo Tridzio, que recebeu o Prêmio Destaque no 1º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira (MCB), em 1986.

 

Fulvio Nanni Jr. e parte de suas criações: a cadeira Raio 23, a poltrona Sand e o criado mudo Tridzio

 

Atuais,  algumas peças do designer foram reeditadas e continuam sendo comercializadas pela DPOT, com destaque para a poltrona Sand e a cadeira Raio 23. Na 3ª edição da série “Pioneiros do Design Brasileiro”, o MCB homenageou o profissional. A exposição foi realizada entre novembro de 2015 e fevereiro deste ano.

 

Carlos Motta

Com a cadeira São Paulo, de 1982, Carlos Motta entra definitivamente na lista de especificadores que marcaram a década de 80. Arquiteto de formação, morou um ano na Califórnia, nos Estados Unidos, onde estudou técnicas construtivas em madeira e ferro. Em 1978, iniciou o Ateliê Carlos Motta, na Vila Madalena, em São Paulo.

A década de 80 foi, portanto, o início da carreira do profissional que hoje tem seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente. Como ele mesmo define em seu site, a arquitetura e o design desenvolvidos no ateliê seguem o conceito da procura pelo óbvio, simples, respeitoso e longevo.

 

Mobiliário de Carlos Motta na década de 80, Banco S feito para o Sesc Pompéia e cadeira São Paulo

 

Destaque para uso da madeira, sua matéria-prima favorita e da responsabilidade ambiental e social em seu trabalho. Aliás, esse conceito vem desde o princípio. A cadeira São Paulo (foto), reconhecida pelo prêmio MCB em 1987, é feita em Eucalipto certificado pelo FSC (Forest Stewardship Council). Acima, também está o Banco S para o Sesc Tatuapé, de São Paulo.

 

Zanine Caldas

Nascido na Bahia, Zanine Caldas foi arquiteto autodidata, mas também paisagista, maquetista e escultor. Multifacetado, deu contribuições importantes para a identidade e o fortalecimento do design nacional.

Em 1948 atuou, com outros sócios, na Zanine, Pontes e Cia. Ltda, mais conhecida como Móveis Artísticos Z. Ficou na sociedade até meados dos anos 50. Conhecido por sua arquitetura, também deixou contribuições icônicas em mobiliário.

 

Poltrona Revisteiro, uma das obras de Zanine Caldas na década de 80. Na foto, Zanine e seu filho designer Zanini de Zanine

 

Os anos 80 marcaram sua obra com diversas criações, como uma oficina para canoeiros na Bahia, com intuito de resgate das tradições regionais, e a fundação do Centro de Desenvolvimento das Aplicações da Madeira (DAM), no Rio de Janeiro. Seu trabalho também foi exposto, à época, no Museu do Louvre, em Paris (França). Faleceu aos 82 anos e entre seus seis filhos, dois seguiram os passos do pai: o arquiteto José Zanine Caldas Filho e o designer Zanini de Zanine (foto acima, com o pai e obras dele).

 

Lina Bo Bardi

Italiana, formou-se arquiteta pelo Liceo Artístico de Roma. Casada com Pietro Maria Bardi, desembarcaram no Brasil em 1946. No ano seguinte, começaram o projeto para construção do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Conforme consta sobre a história do casal no Instituto Bardi, eles atuaram em várias áreas criativas, sendo uma grande influência para a cultura nacional.

Boa parte da obra de Lina pode ser conhecida na exposição “O impasse do design”, que trata da segunda fase do design de mobiliário e projetos da arquiteta.

Aberta desde 29 de maio, na Casa de Vidro, em São Paulo, a exposição segue até 31 de julho e tem curadoria de Renato Anelli. São 13 peças originais de mobiliário de Lina Bo Bardi, em sua maioria criadas para o Masp, o Museu de Arte Moderna da Bahia, e o Sesc Pompeia, mostrando o mobiliário vinculado à sua arquitetura.

Cadeira Girafa uma das obras em mobiliário de Lina Bo Bardi
A cadeira Girafa foi criada em conjunto por Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki

 

Prêmio Design MCB

Realizado desde 1986 pelo Museu da Casa Brasileira, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, a premiação é a mais tradicional do segmento no País. Ao longo do tempo, além de contar a história do design nacional, revela talentos e consagra profissionais e empresas que valorizam o design assinado. A seguir, confira alguns do projetos premiados com a primeira colocação durante a década de 80.

 

Ano: 1986

Cadeira Múltipla | Autor: Carlos Alberto Donato | Produtor: Fergo

Sistema de cadeiras com assento e encosto em monobloco de arame de aço unidas por eletro-solda, sobre as quais injeta-se espuma de poliuretano. As capas removíveis, fechadas com zíper, facilitam a manutenção ou até a troca de tecido do revestimento.

Mesa para Bar | Autor: Carlos Ziccardi

Com estrutura de ferro e pintura eletrostática em preto e tampo de 3 cm em granito azul paulista, esta mesa foi originalmente concebida para o showroom da Zoomp, em São Paulo.

Cadeira paulistano | Autor: Paulo Mendes da Rocha | Produtor: Nucleon 8

Uma cadeira agradável ao sentar e flexível em todos os sentidos. Feita com aço muito fino – o aço espiral – compõe a estrutura pintada em epóxi fosco, que leva apenas um ponto de solda e é vestida com uma capa em couro cru ou lona.

 

Premiados pelo MCB na década de 80, Cadeira Múltipla, Mesa para Bar e Cadeira Paulistano
Cadeira Múltipla, Mesa para Bar e Cadeira Paulistano

 

Ano: 1987

Cadeira Estrela | Autores: Antonio Carriel e Carlos Motta | Produtor: Carlos Motta

Sua maior característica é o conforto gerado pelo assento junto com um encosto flexível, feito de réguas de madeira de amendoim. A cadeira leva este nome pela estrela vazada que se encontra na régua mais comprida do encosto.

Cadeira São Paulo | Autores: Antonio Carriel e Carlos Motta | Produtor: Carlos Motta

Produzida de forma semi-industrial, originou uma técnica construtiva que hoje se aplica a uma linha inteira de mobiliário. Clássica, a cadeira São Paulo é um dos modelos mais copiados no País.

 

Cadeiras Estrela e São Paulo, de Carlos Motta, foram premiadas em primeiro lugar no MCB na década de 80
Cadeiras Estrela e São Paulo

 

Ano: 1988

Cadeira Gaivota | Autor: Reno Bonzon | Produtor: Reno Bonzon

O que fez a peça vencer foi o sistema construtivo preciso, que ressalta grande leveza e a qualidade estética aliada à ergonomia. Feita com laminado colado a frio com resina epóxi, técnica que Bonzon introduziu no Brasil.

Cadeira Tupi-Tube | Autor: José Lobato Farias e Silva

Inova no uso do material, já que suas sapatas deslizantes empregam fibra de carbono. A matéria-prima foi escolhida por sua alta resistência (equivalente à do aço), alta rigidez (três vezes maior do que o vidro) e baixa densidade (um quinto da do aço e dois terços da do vidro). A estrutura é de tubos de aço.

 

Móveis assinados de designers que ganharam o MCB na década de 80
Cadeira Gaivota e Cadeira Tupi-Tube

 

Cadeira PIL/B | Autor: Conrado Mitrovich Rovira

Produzida com materiais como aço trefilado, madeira dura maciça usinada, formando cilindros torneados, tecido em lonita ou vinsol – escolhidos por dispensarem uso de maquinário especial ou mão-de-obra especializada. A estruturação é obtida por pressão entre a madeira e o metal, sem parafusos ou pregos.

Mesa Ubá e Banco Ressaquinha | Autor: Maurício Azeredo | Produtor: Maurício Azeredo

Recebeu o prêmio por suas qualidades estéticas e sua clareza construtiva, por meio do sistema de malhete, e pesquisa de madeiras brasileiras, que é explorada em seus aspectos cromáticos e texturais.

 

Móveis assinados de designers que ganharam o MCB na década de 80
Mesa Ubá e Banco Ressaquinha, e Cadeira PIL B

 

Ano: 1989

Minus | Autor: Estúdio Erre, Raffaella Perucchi, Renato Marques de Oliveira e Runaldo Ferré | Produtor: Renato Marques de Oliveira, com a colaboração do Estúdio Erre

Em versões com e sem braço, usa ferro ou aço inox na estrutura e couro cru ou preto no assento e encosto. Com movimento pivotante, o encosto funciona quase como um colete ortopédico.

Mesa Made in Brasil | Autor: José Roberto Paulino

Mesa de jantar para oito pessoas, com tampo de mármore chocolate e estrutura de mogno envernizado, em forma de X.

 

Mesa Made in Brasil e Cadeira Minus
Mesa Made in Brasil e Cadeira Minus