Como prever o futuro? O que será tendência de consumo? Quais cores e estilos estarão em alta? Como o mercado de arquitetura, decoração e mobiliário irá se comportar? Todas essas questões são levantadas diariamente, mas estabelecer essas relações e cruzar informações requer muita pesquisa e profissionais envolvidos. Mas é olhando para o presente que a WGSN observa o zeitgeist, cuja tradução significa espírito da época ou sinal dos tempos.
Um aperitivo desse estudo e dos aspectos que envolvem quatro macrotendências de comportamento para os próximos dois anos foi apresentado na feira Expo Revestir. A exposição ao público foi feita pela Executiva de Marketing LATAM da WGSN, Nina Giglio. Na ocasião, quatro escritórios de arquitetura foram convidados para “traduzir” e realizar a transposição de tendências em forma de ambientes.
O trabalho contou com a parceria de Gustavo Jansen, Marina Linhares, Sá Cioni Arquitetura (Olegário de Sá e Gil Cioni) e Triplex Arquitetura (Adriana Helú, Carolina Oliveira e Marina Torre Lobo).
“São projetos interpretando as quatro macrotendências, jogando uma luz sobre esses movimentos e traduzindo o que está no ar”, explicou Nina. A profissional destacou ainda que o trabalho da WGSN é fornecer conhecimento e ferramentas para o desenvolvimento de produtos em diversas categorias relacionadas ao estilo de vida, como arquitetura e decoração.
VISÃO WGSN – 4 MACROTENDÊNCIAS DE ESTILO DE VIDA
Triplex Arquitetura: Energia Jovem / Youth Tonic
Para a WGSN, surge a juventude sem faixa etária. Ou seja, a juventude como um estado de espírito, não mais uma faixa etária. O senso de juventude em grande parte é responsável pelo fim dos conceitos delimitados, no qual a celebração do sentimento de liberdade e pensamento livre será aflorada. Cresce a presença do estilo de vida multigeracional, explorando as qualidades de cada uma das gerações – em casa, no trabalho e nos ciclos sociais.
Essa mentalidade traz ainda um forte senso de individualidade e criatividade, e vemos o crescimento da realidade virtual e dos dados, permitindo novos meios de expressão criativa e auto identidade.
“Todos querem ser jovens para sempre. E nossas casas, também. Vemos uma constante mistura de eras, quebrando regras e remisturando as categorias e os estilos em novas e confiantes combinações” – Triplex
Gustavo Jansen: Psicotropical / Psychotropical
Segundo a WGSN, esta megatendência traz a natureza idealizada do futuro. Trata-se da busca não só da natureza, mas do sobrenatural em destaque. Sinergia entre ambientes tropicais criados pelo homem e mundos encantados de realidade virtual, no qual se misturam e tornam-se híbridos. São espaços conhecidos como “phygital” (metade físico, metade digital).
Esse movimento representa ainda a necessidade de volta às experiências, e os materiais e tecnologias criam a sensação de euforia e psicodélica (manifestação da mente). O design, diz a consultoria de tendências, será emocionalmente atraente. O espaço projetado pelo arquiteto Gustavo Jansen reforça que estamos entrando em uma era em que a experiência de espaço e design será ainda mais importante do que o produto em si, à medida em que evoluímos nosso foco para materiais e meios multissensoriais.
“Psicotropical lança um olhar sobre a mescla entre o físico e o digital, de forma que a natureza se torna sobrenatural. Texturas e padronagens serão muito importantes” – Gustavo Jansen
Marina Linhares: Afinidade / Kinship
Essa megatendência decreta o fim das antigas barreiras e o início de novas conexões. O desejo de conectar natural do ser humano será ainda mais forte e variado no sentido global, local, analógico e digital – seja nas mídias sociais ou na vida real. A combinação das conexões, o rompimento de barreiras e fronteiras regionais, nacionais, culturais, digitais, de gênero, estarão em alta.
As conexões geográficas serão retomadas e expandidas na Eurásia, África e no mundo, explica a WGSN. Isso é propício para trocas econômicas e culturais, e coloca novos consumidores no mapa. A evolução dessa conectividade, real e virtual, deve impulsionar tradições culturais, em formatos modernos – ora individuais, ora mixados em alternativas ecléticas. Elas virão à tona para contar novas histórias em um panorama em que artesões independentes trabalhão em parceria com grandes marcas e designers. Eles poderão colaborar entre si mesmo estando em continentes distintos.
“A arte e o design buscarão romper as barreiras, criando fortes laços e estimulando uma maior conectividade em todo o mundo. Informação e design vão se combinar para conectar pessoas em torno de produtos e projetos que contam relatos de lugares, histórias e culturas” – Marina Linhares
Sá Cioni Arquitetura: Futuro sem pressa / Slow Futures
Esse é o futuro baseado no passado. De acordo com a WGSN, jovens adultos, entre 20 e 30 anos, podem estar perdendo a memória na mesma velocidade que pessoas entre 60 e 70 anos. Isto devido à amnésia digital – tendência de esquecer informações importantes graças à crença de que elas podem ser recuperadas por meio de dispositivos digitais.
Com isso, arquivos e memórias serão revisitados e usados como um trampolim para a criatividade. Rejeita-se essa vida rápida e isso tende a criar uma transição mais coerente entre o passado e que está por vir. A urgência por um futuro mais calmo resultará ainda no desejo por mais espaço, que pode ser representado em designs e ambientes mais limpos. Logo, a fusão de design e tecnologia deve criar um minimalismo rústico, que combaterá o consumo excessivo.
Esse é o momento em que consumidores vão, finalmente, começar a comprar a ideia de consumir menos, com mais qualidade. A mentalidade vai ao encontro da sustentabilidade e de um pensar mais a longo prazo. Limpar a bagunça será o foco principal: as pessoas querem ter menos coisas, celebrar a simplicidade e administrar a vida com leveza. Elementos crus, o natural, artesanato e alta tecnologia irão empoderar e inspirar uns aos outros, criando híbridos inusitados e visualmente atraentes.
“À medida que nossa vida se acelera e o tempo parece cada vez mais escasso, iremos apreciar e encontrar inspiração em momentos de ócio criativo. Pelo prazer em não ter pressa” – Sá Cioni Arquitetura
WGSN: Interpretando movimentos e macrotendências
Investigando a sociedade, política, economia, arte e cultura, além de festivais, varejo, relação com a tecnologia e grupos de consumo, entre centenas de outras informações, a WGSN é capaz de prever quais são os movimentos comportamentais que irão influenciar na maneira como marcas e empresas farão negócios num futuro próximo.
Esse relatório de tendências também influencia as indústrias criativas, assim como o mercado de interiores e de produção de móveis. E as quatro macrotendências mapeadas pela WGSN compreendem uma visão para os próximos dois anos, explorando diferentes perspectivas. “Essa visão antropológica, filosófica e social, que parece distante da maioria das pessoas e empresas, em breve (já está!), será materializada em moda, design, cores e produtos”, detalha Nina Giglio.
Segundo a WGSN, o tema geral que norteia as macrotendências é: “Estados da Mente”. A proposição é destacar a crescente transcendência que as fronteiras de idade, gênero, estações, geografia e identidade terão sobre os consumidores – globais e locais. A ação durante a Expo Revestir teve parceria da revista Kaza, e o novo relatório é denominado de “A Visão” (Vision).