Os jurados técnico-funcionais do Prêmio Salão Design 2020 estão próximos de relevar os produtos e profissionais vencedores da 23ª. edição. O anúncio oficial acontece no dia 10 de fevereiro, em Bento Gonçalves (RS), após avaliação dos 104 projetos selecionados para a etapa final, com concorrentes do Brasil, Argentina e Uruguai.
A definição dos vencedores ficará a cargo de um júri especializado, composto por: Adélia Borges, crítica, historiadora e curadora de design; Fernando Mendes, arquiteto, designer e marceneiro; Freddy Van Camp, designer multipremiado e autor; Heloísa Crocco, artista plástica e designer; e Taissa Buescu, diretora de conteúdo da Casa Vogue.
Abaixo, você acompanha entrevistas com todos os jurados do Prêmio Salão Design 2020. Eles avaliam o cenário nacional de design, comportamento dos profissionais, critérios de avaliação dos projetos e influências que tomam conta do mercado.
a opinião dos jurados do Prêmio Salão Design 2020
Com patrocínio de Berneck e Interprint do Brasil, o Prêmio Salão Design é promovido pelo Sindmóveis desde 1988. Nessa edição, o prêmio é de R$ 10 mil para profissionais e R$ 6 mil para estudantes. Para conferir todos os 104 produtos finalistas deste edição, acesse o site do Prêmio Salão Design 2020.
A cerimônia de premiação e mostra de produtos será na Movelsul Brasil, de 16 a 19 de março de 2020. Os vencedores participam, ainda, de mais uma exposição no próximo ano, durante o São Paulo Design Weekend.
Adélia Borges
Como historiadora e curadora de design, como você avalia o atual estágio do design brasileiro?
Avalio que o design brasileiro se encontra num bom momento. Se focarmos especificamente o segmento de equipamentos para o habitat – ou seja, das luminárias aos revestimentos, tudo o que entra dentro de um edifício, seja ele uma residência, um escritório ou uma instituição – veremos que há uma abertura cada vez maior por parte dos empresários para entender a necessidade de investir em pesquisa e desenvolvimento de produtos. Isso exige equipes multidisciplinares, nas quais os designers têm um papel fundamental. Até o final do século passado não havia essa consciência por parte dos empresares e gestores a respeito do valor estratégico do design nos negócios. Para a disseminação dessa conscientização, sem dúvida contaram muito iniciativas como todas as que vêm sendo feitas pelo Sindmóveis, em particular o Prêmio Salão Design 2020. O Sindmóveis vem fazendo diferença com essa ação.
A miscigenação brasileira se reflete no design autoral de mobiliário?
Acho que sim, na medida em que mais e mais designers estão procurando expressar suas culturas nos projetos que fazem. Isso ocorre mais nas baixas tiragens.
Em um momento em que o mundo está mais híbrido e caótico, como isso impacta o design?
A prática do design é indissociável das conjunturas econômicas, sociais, políticas, comportamentais, ambientais etc. Por isso, o design reflete a conjuntura e, muitas vezes, interfere nela. Sendo assim, creio que muitos projetos vêm incorporando as questões complexas que o mundo está vivendo hoje e dando respostas em relação a elas. A hibridez faz parte da contemporaneidade, mas o caos deveria ser algo a ser combatido – pelos cidadãos em geral, designers inclusive – em busca de uma sociedade mais justa e integrada.
Fernando Mendes, jurado do salão design 2020
Quais são os principais critérios para avaliar o design de uma peça? O que deve ser levado em consideração?
O primeiro critério, eu diria, é inovação, seja no uso da peça, na forma e, sobretudo, na beleza. Evidente que hoje ninguém está inventando a roda, existem referências formais por todos os lados, mas o designer precisa encontrar, ainda que em um detalhe, uma maneira de expressar sua criatividade no projeto de design.
O segundo critério diz respeito à construção, que considero tão importante quando a estética do objeto. Para essa avaliação vale perguntar: o material escolhido é adequado para o objeto? Os processos de fabricação foram bem planejados? Existe coerência entre forma, matéria, construção e características físicas do objeto?
Como terceiro critério, devemos avaliar se as qualidades estéticas, escolha de materiais e processos produtivos estão em harmonia com o valor que esse objeto terá no nicho de mercado onde se pretende comercializá-lo.
Qual a influência das cores da madeira sobre as peças de mobiliário?
Antes da influência da cor da madeira no mobiliário eu perguntaria se as qualidades físicas da madeira estão adequadas às necessidades do projeto. Madeiras muito pesadas não são boas para cadeiras, madeiras macias demais ficarão muito marcadas num tampo de mesa. A estrutura de um móvel também demandará características específicas do material. Observados esses aspectos pode-se pensar na cor da madeira. Para mim. todas as madeiras têm beleza, mas sabemos que existe o gosto do mercado, que varia em diferentes regiões. Sempre que possível ao natural é mais bonito, mas pode-se tonalizar a madeira, levemente – de preferência de maneira a não se perder sua textura.
Taissa Buescu
O termo “tendência” está banalizado no design?
Não diria banalizado. Mas eu acredito que o design ampliou muito sua área de atuação, então, a cada ano fica mais difícil identificar tendências. São muitas vertentes. Mas o bom design é sobretudo autoral, inovador, criativo, ousado, sustentável, resultado de muito estudo de materiais, formas e acabamentos; e embasado de muito repertório cultural e histórico, além de responsabilidade.
Gerar experiências. Esse é um dos objetivos recentes de marcas e corporações, mas de que forma o design pode pegar “carona” ou se apropriar deste contexto?
Eu diria que o ato de se sentar em uma cadeira, uma poltrona, um sofá com bom design já é uma experiência por si só. Tomar um café em uma xícara bem desenhada, elaborada com materiais que despertem o tato ou a visão do usuário, em uma forma que valorize o sabor do café, é uma experiência. O design é capaz de transformar a nossa relação com as coisas, tornando seu simples uso em verdadeiras experiências.
Freddy Van Camp
Quais habilidades o designer precisa adquirir para materializar seus trabalhos?
Em um País como o nosso, o designer precisa de muitas habilidades extras, especialmente quando ainda não temos uma cultura de utilizar o design estrategicamente. Nosso designer é bem formado, talentoso, mas por falta de oportunidades deixa de ter a prática necessária. Hoje, estamos exportando designers de talento, formados no país, para o exterior. Nosso design é muitas vezes mais reconhecido lá fora do que pelo nosso empresariado e pela nossa classe dirigente. O design que poderia beneficiar nossos consumidores e usuários, nossa indústria e nossa economia, fica a dever e tem que se dedicar a fazer um produto mais elitista, de produção própria, para sobreviver. Ele precisa ser flexível, antes de tudo.
A cultura do design tem se firmado cada vez mais, mesmo com pouco apoio oficial ou institucional. O que fazer para esse processo ser mais democrático?
O design brasileiro tem se firmado, antes de mais nada, pelo talento dos profissionais e de sua insistência em fazer design, mesmo em um ambiente hostil e de desindustrialização. Somente com mais insistência e exposição sistemática de nossa produção poderemos vencer esta barreira, quase intransponível, que a miopia de classe dirigente tem quanto ao valor da inovação que ele traz. Design é o ativo mais barato que existe para nosso desenvolvimento industrial, comercial ou de serviços. E é o menos utilizado!
Heloisa Crocco
Design x design arte. Como contextualizar esse cenário?
Cada vez mais, as pessoas desejam singularidade, consistência e respostas. O cenário Design x Design e Arte, muitas vezes, encontra um limite tênue. Mas quando se vê pesquisa, conceito, persistência na ideia e limite na expressão, esse conjunto traduz poética e revela DESIGN e ARTE.
Você já disse que precisamos reeducar nosso olhar para a natureza. Como fazer isso numa sociedade tecnológica e de massa?
Então, quando digo REEDUCAR é numa questão da busca da expressão, da linguagem, como queremos se expressar, o que se quer traduzir, contar. Existem muitos caminhos, mas o caminho com pertencimento é o que significa para cada um de nós. É exercitar os olhos e o espírito para o que está acontecendo, para o ENCONTRO do que queremos revelar. Se observarmos a beleza da natureza, vamos entendê-la como uma grande mestra. Cores, texturas, forma, essência e magia.
* Para as entrevistas, tivemos a colaboração de Ana Carolina Azevedo, da assessoria de imprensa do Sindmóveis Bento Gonçalves.