A relação entre arquitetura e design não é nenhuma novidade, assim como ver grandes arquitetos desenhando peças de mobiliário. Ao longo do tempo, muitos profissionais projetaram peças como forma de extensão de sua arquitetura, ganhando, algumas delas, reconhecimento internacional como ícones do design.
Exemplos nacionais e internacionais não faltam, como Oscar Niemeyer, Sérgio Rodrigues, Carlos Motta, Le Corbusier, Ludwig Mies van der Rohe, Mario Bellini, Philippe Starck, entre tantos outros profissionais.
Responsável por mais de trezentas obras realizadas no Brasil e no exterior, o arquiteto paulistano Ruy Ohtake é outro expoente desse universo – explorando o uso do concreto, madeira e aço em seus móveis, entre outros materiais, para fabricar poltronas, bancos, aparadores e namoradeiras. Aliás, suas peças carregam as mesmas curvas e formas surpreendentes que caracterizam seus projetos de arquitetura.
Segundo Priscyla Gomes, do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (mãe do arquiteto), é possível identificar outros aspectos além da sinuosidade das formas e da intensidade das cores, que aproximam o design de Ohtake de sua arquitetura.
Há no trato dos materiais uma analogia construtiva clara, em que os mais distintos elementos são colocados a serviço de sua gestualidade. “As curvas de seus perfis metálicos refletem os mesmos pontos de tangência buscados nas soluções estruturais de sua arquitetura. Uma conversa íntima entre os desenhos que delimitam escalas aparentemente tão destoantes”, explica Priscyla.
Na foto, Mesa Zu e Poltrona Namoradeira.
Homem x espaço
Ohtake criou por muitos anos móveis específicos para as casas de sua autoria, sem demanda comercial, mas como detalhamento ou complemento da sua concepção espacial da moradia. Usou o concreto para estantes, mesas e sofás, explorando formas inusitadas e circulares, sempre desafiando o peso do material.
Ao se aventurar no design, a partir da década de 90, também utilizou vidro e aço. Recentemente, também passou a explorar materiais mais flexíveis e perfis mais finos de aço.
Em 2014, ao lançar a cozinha Gourmand em parceria com a Ornare, o profissional disse que o desafio de projetar um móvel, um prédio ou uma casa era idêntico: “Tudo se trata da relação e interação do homem com o espaço em que vive.”
Aliás, na cozinha, Ruy Ohtake explorou cores vibrantes, formas orgânicas e integração com ambientes sociais. “Desde que o homem se meteu na cozinha, os ambientes estão integrados com a sala, porque eles não querem perder as conversas”, disse Ohtake na ocasião. No mesmo ano foi lançada a linha de estantes “Entre Parênteses” (foto).
Duas Voltas
Formado pela FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em 1960, Ruy Ohtake segue ativo com sua produção aos 78 anos. Seu lançamento mais recente é a poltrona Duas Voltas, uma peça feita em aço carbono com couro estonado e projetada com duas voltas de aço.
Na coleção, a estrutura de aço está disponível nas cores azul-royal, branco, laranja, preto, roxo e verde-limão e, para o couro, há quatro opções: branco, bege, ocre e cru, embora seja possível personalizar a peça com outros tons de couro.
RUY OHTAKE
É de Ruy Ohtake, por exemplo, entre outras obras, os hotéis Unique e Renaissance, o Parque Ecológico do Tietê, o sistema de transporte urbano Expresso Tiradentes e a sede social e cultural do São Paulo Futebol Clube – todos em São Paulo.
Em Brasília, o arquiteto assina o Royal Tulip Alvorada, o Estádio do Gama e o Brasília Shopping. No exterior, é ele o responsável pela Embaixada Brasileira em Tóquio, no Japão, e pelos jardins e pelo museu aberto da Organização dos Estados Americanos, nos Estados Unidos.
Na foto, o Aparador Filipelli e a Residência de Tomie Ohtake, projetada pelo filho e arquiteto Ruy Ohtake.