Arquiteto e urbanista, designer, inventor, desenvolvedor de projetos experimentais e identidades visuais. Essas são algumas das designações que encontramos em torno do nome de Rodrigo Ambrosio, mas ele não gosta de rótulos. Plural, o profissional acredita que determinar o que se faz é uma espécie de limitação ao poder humano de fazer qualquer coisa que se queira. E ele pode falar com propriedade, porque sua atuação segue essa premissa. Conhecido pelo desenvolvimento de móveis e projetos de natureza cultural, é difícil detectar algo que se sobreponha em sua criação.
Mas sua obra tem, sim, um ponto de convergência que pode ser facilmente vislumbrado. Alagoano de corpo e alma, Ambrosio tem a cultura nordestina fortemente refletida em seus projetos. “Minha terra é onde recarrego minhas energias e referências”, afirma.
No uso dos materiais a pluralidade também é presente. Afinal, tudo pode virar matéria-prima nas mãos de Rodrigo. “Gosto de materiais não usuais. Gosto de desvendar os segredos do que me serve de plataforma para criação, seja ferro, madeira, palha, pedra, peças de ventiladores. O que for!”, explica.
Seu processo criativo, conta o designer, é fruto de estudos, imersões e observações, seja em viagens, das manifestações culturais ou de leituras que vai acumulando. “Em algum momento, tudo se cruza”.
Rodrigo Ambrosio – encontros e misturas
Dessa inquietude, nasceram objetos que marcam sua produção, como a Cadeira Engenho – produzida com rapadura. Isso mesmo, o doce de cana-de-açúcar. “É uma cadeira efêmera, que tem a energia de mais de 50 quilos de rapadura. Afinal, o que nos alimenta?”, instiga Ambrosio.
A Cadeira Engenho tinha um ciclo de vida determinado, já que foi apresentada na exposição “Arte das Alagoas” (2015). A ideia era resgatar a história dos engenhos que marcam a própria formação do Brasil. Para o designer, a peça cumpriu a sua função física como cadeira e como alimento. “Cumpriu também a sua função psicológica de manter viva nossa cultura ancestral e questionou os valores materiais da sociedade contemporânea”.
Inspiração no artesanato, cultura e no Brasil
Mas o conceito de matérias-primas inusitadas se estende a outras peças, como as luminárias Pedregulho. Feitas de sobras das pedreiras, fazem alusão às dinamites que separam as pedras das grandes rochas. As peças seguem o formato orgânico e irregular das pedras, o que garante a exclusividade de cada luminária. As pequenas cúpulas são feitas com folha de papel.
O resultado das peças criadas, onde se destaca o regionalismo brasileiro, é diverso – tanto em móveis e objetos de série limitada, como em peças de cunho comercial. O banco Gonzaga (foto abaixo), por exemplo, mescla madeira de Pinus e Jatobá com corda de nylon.
Entre as peças criadas, chama atenção também o banco Arapuca, produzido com 150 metros contínuos de corda náutica. A corda é cuidadosamente torcida nos pequenos orifícios de uma chapa de aço. Esta peça foi exposta na MADE, feira internacional de design colecionável, e na Mostra Brazil S/A, em Milão (Itália).
A releitura da Poltrona Austin pelo designer para a Artefacto também demonstra sua brasilidade no design. Sua versão utilizou cana da índia, destacando a beleza da fibra natural. Esta ação integrou parte das celebrações de 40 anos da marca, em 2016.
Rodrigo Ambrosio – forma e psicologia
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas, onde também lecionou Design do Objeto, o profissional defende a função física e psicológica dos móveis e peças que cria. “A estética, nada mais é, do que uma necessidade psicológica. Se o produto tem uma funcionalidade mais óbvia, porque não explorar a funcionalidade psicológica e agregar nele um pensamento maior?”.
Rodrigo defende ainda que a formação do criativo precisa ser cada vez mais completa. “Precisamos nos voltar ao passado e entender porque eles investigavam tanto as áreas, e não se bitolar em uma única área de conhecimento”.
É baseado neste pensamento que ele realiza constantes reinterpretações da cultura brasileira, e se envolve com grupos multidisciplinares. Um exemplo foi o Armorial Design Group, coletivo com Rodrigo Almeida, Zanini de Zanine e Sérgio J. Matos. O grupo fez várias peças e apresentações em feiras e eventos visando a disseminação da cultura nordestina. A palavra Armorial significa o conjunto de emblemas e brasões de um povo.
O regionalismo e preocupação com a sustentabilidade despertou em Ambrosio uma curiosidade pelo trabalho de outro designer: o mineiro Domingos Tótora. Dessa aproximação e parceria, nasceu a recente coleção Egrégora, comercializada pela Dpot. Em grego, o nome representa a força espiritual resultante do esforço mental e emocional de duas ou mais pessoas.
São sete peças, incluindo os bancos Sedimentos, Estação e Estrada – este último, produzido com papel Kraft reciclado. A coleção conta ainda com as poltronas Sesmaria e Mantiqueira, e as luminárias Fenda e Arqueus.
Clube de Colecionadores do MAM
Além de prêmios, as criações do designer alagoano já foram destaque em Milão, Rio de Janeiro e São Paulo. Aliás, sua obra, figura no acervo permanente do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo).
Em 2015, o MAM convidou Marcelo Rosenbaum para curar as cinco obras comissionadas do Clube de Colecionadores do Museu daquele ano. O tema: Várzea Queimada. A coleção foi alinhada seguindo o patrimônio cultural desse povoado, localizado no sertão do Piauí.
O processo envolveu artistas e designers, trabalhando junto com artesãos da região. Ao final do trabalho, Alfio Lisi, Mauricio Arruda, Neute Chvaicer, Paulo Alves e Rodrigo Ambrosio criaram peças feitas de palha de carnaúba, borracha de pneu e madeira.
As produções de Rodrigo Ambrosio dialogam com o regional e são um bom exemplo do “pensar global, agir local”