Arquiteta e urbanista por formação desde 1995, Rejane Carvalho Leite passou a projetar para a indústria em 2002 e, desde então, estabeleceu uma carreira consistente como designer de produtos. Madeira, metal, acrílico, fibra, alumínio, couro e tecido estão na lista de matérias-primas utilizadas pela profissional, que une racionalismo, técnicas manuais e tecnologias de ponta para criar seus produtos.
“Hoje, as CNC’s são grandes aliadas para se trabalhar os materiais, pois ganhamos na produtividade e conseguimos um desenho mais fiel a ideia inicial. Quando penso o produto, preciso avaliar a capacidade produtiva das fábricas que trabalho. Com isso, consigo materializar o projeto de forma mais coerente e com um melhor controle de custo final”, explica.
Essa, aliás, é uma das características marcantes de seu desenho e trabalho junto a empresas do setor moveleiro. Breton, Donaflor Mobília, Florense, Líder, Moora Mobília Brasileira, Pavani e Schuster são algumas das marcas com produtos assinados pela designer, que participa da série “Por trás do design de móveis”. A iniciativa é uma realização conjunta do Habitus Brasil com a feira ForMóbile, que acontece entre os dias 10 e 13 de julho, em São Paulo (SP).
O designer Estevão Toledo já conversou conosco e expôs sua visão para a criação de uma peça icônica. Confira o post aqui.
Rejane Carvalho Leite ressalta que a escolha da matéria-prima, seus componentes e processos impactam diretamente no resultado do produto. “Uma peça com formas mais orgânicas é sempre um desafio. Principalmente, se a fábrica não possui máquinas capazes de reproduzir determinadas peças”.
Contudo, ela pondera que um produto ganha o status de icônico, não pelas máquinas que o fazem, mas pelo conceito, história ou pela sensação que transmite ao usuário.
Nota da redação
A usinagem CNC se dá através de uma máquina controlada por comandos numéricos. Ou seja, é um processo de fabricação que utiliza computadores para automatizar máquinas em diversas etapas de produção. O segmento, inclusive, é um dos que apresenta mais atrações na ForMóbile, incluindo o espaço Indústria do Futuro e Marcenaria Moderna.
POR TRÁS DO DESIGN
Para explicar seu processo criativo, a designer revela como desenhou a Cadeira Asa e a Poltrona Jóquei. “Selecionei esses dois produtos pelo conceito diferenciado e técnica construtiva. Ambos trazem o apelo do trabalho manual no seu processo de fabricação”, diz Rejane.
Cadeira Asa, por Rejane Carvalho Leite
“A ideia era fazer uma cadeira que ‘brotasse’ do assento de madeira maciça colada. Então, partindo do assento, nasceu a estrutura lateral como asa e que suporta o espaldar”. Maleável, ele é fabricado em couro tipo sola e sem costuras, pois utiliza uma cola especial. Essa é uma das características marcantes da Cadeira Asa. O formato anatômico comunica leveza e movimento, ao mesmo tempo em que acolhe, de forma aconchegante, o usuário. Discos torneados de madeira, auto atarraxantes, fixam o espaldar à estrutura.
Rejane conta que utilizou uma madeira pouco convencional, denominada Uva do Japão. “Isso é devido ao aspecto aveludado que ela confere a peça depois de acabada”. Segundo a designer, essa madeira mescla nuances entre amarelo, castanho-escuro ou vermelho.
Poltrona Jóquei
As selas de montaria foram a inspiração para a Poltrona Jóquei. “Eu queria trabalhar com uma concha única, presa na estrutura, como se fosse um cavalo encilhado. Entendo que o conceito sempre é o ponto de partida de um novo projeto e norteia a essência de todos os processos”, conta. A concha, trabalhada como uma sela, é confeccionada em uma manta única de couro – do assento ao espaldar. “O couro tipo sola foi ideal para o produto, pois é maleável e de fácil estruturação”.
Na estrutura da Poltrona Jóquei, Rejane Carvalho Leite optou pela madeira maciça. “Ela valoriza as conexões”. Já o feito a mão fica evidente na costura dupla que conforma a peça única. O trabalho manual é finalizado com uma costura em zig zag, fechando a lateral da concha. “É preciso conhecer os limites dos materiais, pois as escolhas de execução podem inviabilizar um projeto. Interferindo, inclusive, na vida útil do produto, bem como impactando seu custo final”.
Prototipação e inquietude de Rejane Carvalho Leite
A profissional também diz que é importante os designers se manterem atualizados sobre tudo o que envolve a produção do mobiliário. “O designer, por natureza, deve ser um profissional multidisciplinar”. Apreciadora do trabalho de mestres como Sergio Rodrigues, Zanine Caldas e Joaquim Tenreiro, a designer conta ainda que o caminho para a busca do conhecimento neste setor foi dentro das fábricas, fazendo protótipos, testando materiais e técnicas. Para isso, também aprimorou conhecimentos com a realização de cursos de especialização na Universidade Politécnica de Milão.
Mas foi a parceria de trabalho com Leonardo Bua, de Firenze (Itália), que marcou a opção de se dedicar exclusivamente ao design de produto. “Isso marcou minha transição da arquitetura para o design. A partir disso, comecei a galgar meu espaço no mercado”, explica. A arquiteta lembra que de 2002 pra cá, o design deixou de ser visto como um custo na fábrica. “Hoje, é possível ver um processo de valor agregado em torno do desenho de móveis e acessórios”.
Outra preocupação manifestada por Rejane Carvalho Leite é que seus produtos, além de qualidade, ofereçam utilidade e desenho diferenciado. “É importante que cada elemento proposto seja parte integrante de um sistema coordenado, sóbrio e elegante. Seja na área interna ou externa, o produto deve ser capaz de compor um ambiente agradável para a convivência em família, proporcionando conforto”, finaliza.
Para conhecer outras peças do portfólio da designer, acesse seu site oficial. No seu portfólio, estão a Poltrona e Mesa de centro Camafeu, Poltrona Moliçosa, Mancebo Lurch, Banco Macaron e Cadeira Ilhós. Abaixo, referência e rascunhos para o desenho da Poltrona Jóquei.