Formada em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Campinas (SP), Rahyja Afrange tem passagem por escritórios renomados como TEN Arquitectos, Aflalo & Gasperini, e Bernardes + Jacobsen. Contudo, o encanto pelo mundo do design, após realizar um curso em Copenhagen, na Dinamarca, fez a profissional apostar na atuação multidisciplinar. Hoje, comanda seu próprio estúdio em São Paulo, com projetos de arquitetura, interiores, mobiliário e objetos de design.
Em um papo com a equipe do Habitus Brasil, a designer nos contou um pouco mais sobre seu trabalho e o que está por trás do design de móveis da Cadeira SE7E.
Esta reportagem integra a série “Por Dentro do Design”, em parceria com a Feira ForMóbile, que acontece em São Paulo (SP), de 10 a 13 de julho. Em sua 8ª edição, o evento é um dos mais representativos para o segmento de criação e produção do mobiliário, com lançamentos e inovações em acessórios e componentes, máquinas e equipamentos, ferragens, matérias-primas e insumos.
Paixão pelo design nórdico
Rahyja Afrange conta que idealiza suas criações com base na estrutura lógica de cada material, além de se guiar pela estética, funcionalidade e simplicidade. Princípios que também estão presentes no design escandinavo – inspiração para suas criações. “Desde a faculdade de Arquitetura o design escandinavo me intrigava, pela forma inteligente como eles conseguem criar uma ambiência interna, talvez por ficarem muito tempo dentro de casa. Eles são mestres em valorizar o design e o material utilizado nos móveis”.
A designer explica ainda que voltou ao Brasil com o protótipo da Cadeira SE7E na mala e foi quando tomou a decisão de abrir seu próprio estúdio. “Fomos para a Suécia e a Finlândia e no fim do programa os designers nos orientaram a produzir alguma peça para sentar”, relembra.
Nota da redação. Na ForMóbile, durante o Fórum da Indústria do Futuro, haverá um debate sobre as tendências europeias que podem influenciar a fabricação de móveis. Veja detalhes aqui.
Cadeira SE7E, por Rahyja Afrange
A Cadeira SE7E, explica Rahyja, foi fruto de muito estudo de material, ergonomia, experimentação e prototipagem. A peça traz uma estrutura que contrasta com as delgadas ripas do assento e encosto, criando um interessante jogo de luz e sombra. As ripas, sutilmente torcidas, ligam a parte frontal a posterior, sendo desenhadas para o corpo. A produção é da Marupá Móveis, marcenaria parceira e que fabrica outras peças da designer.
Abaixo, no vídeo, é possível conferir o making off de produção de uma peça.
Aliás, marcenarias de todos os portes também poderão conferir atrações especiais na ForMóbile 2018. Na “Marcenaria Moderna”, por exemplo, os profissionais terão à sua disposição demonstrações, oficinas e workshops práticos. Veja todos os detalhes aqui.
Processo de criação e experimentação
A cadeira SE7E, assim como a maioria das minhas peças, surgiu do desenho a mão no meu caderno. Geralmente ando com ele para cima e para baixo, e quando vejo algum detalhe interessante ou uma ideia, eu anoto. É quase como um mosaico de rabiscos, escritos, recortes, etc.
Depois do desenho à mão, fiz uma maquete pequena para sentir as proporções e, em seguida, o desenho técnico na escala 1:1, quando ajustei alguns detalhes. Fiz testes com ripas de madeira Freijó e Cumaru para encontrar a seção ideal – tanto da estrutura quanto do assento. Queria algo visualmente leve, mas que tivesse resistência. Daí segui para o primeiro protótipo. No total, foram desenvolvidos quatro protótipos, onde fomos ajustando os ângulos e curvaturas do assento e encosto. Somente com os protótipos que realmente conseguimos os ajustes de ergonomia.
O envolvimento de toda a equipe foi imprescindível para chegarmos ao resultado. Houve atenção total desde a escolha da madeira até a embalagem e entrega. E durante esse processo sempre tivemos a preocupação de viabilizar economicamente a peça como produto.
Escolha pela madeira
“Desde o início a ideia era fazer uma cadeira inteira de madeira, sem estofado, mas que fosse extremamente confortável”, conta Rahyja Afrange. A cadeira SE7E tem todos seus encaixes aparentes e mostra como cada peça está conectada. “Tenho essa preocupação em mostrar o material da forma mais natural possível, como ele realmente é. Além disso, a madeira é um material natural que muito me encanta. Tem vida própria e responde diretamente a forma como é tratada”.
A cadeira SE7E também está disponível na versão com tiras de feltro de lã natural entrelaçadas no assento. Outra opção traz o couro soleta havana. Posteriormente, a designer desenhou uma família de móveis SE7E, que inclui Poltrona, Aparador e Mesa. Veja outras criações de Rahyja Afrange em sua página oficial.
Rahyja Afrange
Conceito, insumos e fabricação
De que forma os insumos e recursos tecnológicos contribuem para o resultado do mobiliário?
A criação de uma peça é um diálogo fluído entre uma ideia no campo conceitual e as possibilidades físicas do mundo real. Neste diálogo, sempre busco explorar ideias que não só pareçam boas, mas que nos façam sentir bem. Foco na qualidade, nos detalhes e durabilidade. Com isso, insumos, matérias-primas e recursos tecnológicos estão intimamente relacionados ao resultado.
Qual é a importância dos designers se manterem atualizados sobre as etapas de produção?
Isso é imprescindível, pois te permite aliar criatividade com todo o potencial da matéria-prima ou processo construtivo. Pode significar economia de tempo, de recursos, etc. O desconhecimento pode ser desastroso ao se lançar uma nova peça ou coleção.
Para você, é a ideia/conceito ou o material de fabricação que norteiam o processo de criação?
Depende muito de cada projeto. A ideia pode surgir num plano conceitual, sem material ou técnica definidos. E durante o processo de experimentação encontro as respostas. Já outros projetos nascem a partir do material. Às vezes, inclusive, há um encantamento com algum material específico. Já cheguei a comprar alguns materiais sem saber o que faria e a resposta veio na própria experimentação. Com o feltro foi assim, fui comprando uns pedaços e não sabia onde ia dar.
Mas a simplicidade está muito presente no seu trabalho…
Eu vejo o design como uma ferramenta para testar e expor ideias. Tenho um respeito muito grande pelos materiais e gosto de ressaltar a beleza que eles têm. Essa característica passa pela escolha dos materiais: couro, feltro, madeira, cortiça. Também procuro criar peças duradouras, que tenham um super cuidado com o processo produtivo, descarte e utilização consciente dos materiais. É interessante que possam se adaptar ao gosto do cliente e mudar com ele.