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Não é de hoje que vemos iniciativas para o reaproveitamento de resíduos, como o plástico. O desafio, no entanto, é tornar esses produtos acessíveis e enfrentar um extenso processo de pesquisa e desenvolvimento. Afinal, reaproveitar resíduos como um recurso pode encarecer muito o resultado final, inviabilizando boas ideias sob o ponto de vista comercial.

Pensando nisso, a IKEA estudou durante dois anos uma forma de incluir o reaproveitamento de garrafas PET na sua linha de móveis. Isso exigiu avaliação do material, do design e do processo de produção para não comprometer forma, função e a qualidade do produto final. Desse estudo nasceu a linha Kungsbacka para cozinhas.

A proposta traz uma cozinha inteiramente produzida com madeira industrial recuperada (aglomerado) e revestida com laminado PET – processado a partir de garrafas plásticas descartadas. “A Ikea chega a tantas pessoas que queríamos projetar um produto sustentável e também acessível”, afirma Jonas Pettersson. Ele é CEO do estúdio de design sueco Form Us With Love, co-responsável pelo projeto com a IKEA.

 

A proposta da IKEA traz uma cozinha (Kungsbacka) inteiramente produzida com madeira industrial recuperada (aglomerado) e revestida com laminado PET – processado a partir de plástico descartado

 

“O que fazemos na IKEA tem um grande impacto no meio ambiente porque trabalhamos com grandes quantidades. Com o novo material podemos reaproveitar o plástico e produzir de forma mais sustentável”, afirma Anna Granath, desenvolvedora de produtos da fabricante sueca.

Plástico (laminado PET) nas cozinhas

A linha Kungsbacka comprova que é possível reaproveitar recursos em produtos de larga escala. Segundo a gigante sueca, o revestimento de cada painel de 40 x 80 cm utiliza 25 garrafas PET de meio litro. Curiosamente, 25 anos é o prazo de garantia dado pela fabricante para a linha de móveis.

Como acontece com a maioria das cozinhas IKEA, os armários são modulares, para que possam ser compostos em qualquer espaço. O design da linha Kungsbacka é clean, com uma estética atemporal. O estúdio Form Us With Love desenvolveu ainda um modelo de chanfro nos painéis, quebrando a rígida formalidade e planicidade (linhas retas) das frentes de cozinha. Já o laminado foi desenvolvido em parceria com a italiana 3B, e o acabamento traz uma superfície mate.

 

Frentes de cozinha Kungsbacka, da Ikea, são feitas com reaproveitamento de plástico e madeira industrial

O design da linha Kungsbacka é clean, com uma estética atemporal. O estúdio Form Us With Love desenvolveu ainda um modelo de chanfro nos painéis, quebrando a rígida formalidade e planicidade

“Superar o preço foi um marco no desenvolvimento. A sustentabilidade deve ser para todos, não só para aqueles que podem pagar” – Anna Granath

Muito além do discurso de sustentabilidade

Segundo a J. Walter Thompson Intelligence, empresa que aponta tendências e inovações, os consumidores têm preferido as marcas que se esforçam em prol da sustentabilidade. Além de lançar as cozinhas, a Ikea também comprou recentemente uma participação de 15% na Morssinkhof Rymoplast Group. A empresa de origem holandesa atua na reciclagem de plástico.

Além disso, a IKEA vem incorporando móveis mais sustentáveis em seu catálogo, ano após ano. A coleção PS 2017 – leia texto neste link – já incluía móveis e artigos de decoração com materiais reciclados.

“Nossa ambição é aumentar a participação de materiais reciclados em nossos produtos. Estamos buscando novas maneiras de reutilizar materiais, como papel, fibra, espuma e plástico, para que possamos dar-lhes uma nova vida em um novo produto”, detalha Anna Granath.

 

Além disso, a IKEA vem incorporando móveis mais sustentáveis em seu catálogo, ano após ano. A coleção PS 2017 – leia o texto exclusivo do Habitus Brasil

 

Mas a Ikea não está sozinha nesse propósito. A Adidas também lançou, no fim de 2016, o Ultraboost Uncaged, um tênis feito em parceria com a Parley. Composto de plástico reciclado coletado nos oceanos, a meta é produzir um milhão de pares até o fim deste ano. Segundo a fabricante de material esportivo, trata-se de um artigo esportivo de alta performance, fazendo do problema a solução. Sua estrutura é feita de 95% de plástico e 5% de poliéster e algodão, também reciclados.

“Neste ponto, não falamos mais apenas sobre sensibilização. Trata-se de tomar medidas e implementar estratégias que podem terminar o ciclo de poluição por plásticos”, afirma Gyrill Gutsch, fundador do Parley para os oceanos, em um comunicado para a imprensa.

Patrocinadora dos times Real Madrid e Bayern de Munique, a Adidas também lançou camisas oficiais com fios produzidos a partir do plástico retirado dos oceanos. A marca promete ainda novos lançamentos de produtos. Mais detalhes estão disponíveis no site.

Tênis Adidas Ultraboost Uncaged é feito com plástico retirado dos oceanos

A motivação está no consumidor

Os consumidores estão olhando e dando preferência a empresas que assumem compromissos com a sustentabilidade e também com questões sociais. Segundo pesquisa da J. Walter Thompson SONAR ™, 88% dos millennials do Reino Unido e dos EUA acreditam que as marcas precisam fazer melhor e não apenas “menos pior”.

A designer Micaella Pedros é outro bom exemplo de atuação, mas com um trabalho em comunidades. Seu estúdio, em Londres (Inglaterra), desenvolveu uma forma de unir madeira e auxiliar no reaproveitamento de garrafas plásticas. A ideia é desenvolver o trabalho junto a comunidades carentes e ainda dar uma solução ao passivo plástico ambiental.

 

A designer de Londres, Micaella Pedros desenvolveu um sistema de reaproveitamento de garrafas Pet usadas nas junção das peças de móveis de madeira

 

Foi assim que surgiu o projeto “Joining Bottles” – juntando garrafas, em tradução livre. Uma técnica experimental que une, pelo calor, as garrafas plásticas à madeira. Desta forma é possível construir estruturas funcionais de forma fácil e acessível. Segundo ela, o projeto visa “contribuir para novas crenças baseadas no que nós, como indivíduos e comunidades, podemos fazer com o que temos disponível”.

Essa filosofia, conta a designer, foi adquirida durante um período como voluntária em Uganda, na África, e na Guatemala. Seu trabalho é baseado no design social e humanitário. “Por meio do design é possível se beneficiar dos recursos locais e capacitar as pessoas para utilizá-los”, afirma.

Cada peça criada pela designer é única e todo tipo de madeira pode ser reaproveitado. “É um manifesto de que o objeto não seja mais um artefato impulsionado pelo consumo e sim uma ferramenta genuína para a criação e capacitação”.