Impetuosos, sem foco, informados, precoces e individualistas. Não é incomum ouvir alguns desses adjetivos quando se tenta descrever os jovens das gerações contemporâneas. Rotular é fácil quando se olha de longe, mas a dúvida permanece. Quem é esse jovem? O que ele busca? Para responder essas questões, quebrar estereótipos e “verdades” criadas em torno das novas gerações, a agência Talent Marcel lançou Mind the Gap.
Trata-se de um documentário que busca dar fim a generalizações automáticas e aos gaps de entendimento sobre o assunto. O filme, de aproximadamente 28 minutos, conta com o apoio do canal Multishow, e o trabalho é fruto de uma pesquisa de 15 meses de aprofundamento e análises sobre o tema.
Para a formatação de Mind the Gap, foram mais de 54 horas de conversas com 21 especialistas, de filósofos e antropólogos a youtubers e empresários. Além disso, foram ouvidos 90 jovens de todas as classes sociais, diferentes gêneros e idades pesquisados em profundidade e 500 jovens de todo Brasil em pesquisa quantitativa. O objetivo? Por um fim ao senso comum.
O documentário também testa algumas teses, que se mostraram preconceituosas. Tais como de que os jovens “já nasceram com um chip diferente”, “buscam felicidade a qualquer preço”, “têm a vida mais fácil com muitas possibilidades” e “que não sabem respeitar autoridade”.
Há visões bem interessantes no trabalho, que servem de inspiração – ou ao menos reflexão – para quem quer entender ou trabalha com o target.
Contexto do público jovem
O grande abismo existente entre os jovens contemporâneos e as outras gerações encontra-se principalmente no fato de que, via de regra, a juventude sempre foi vista como um grupo de rebeldes sem causa, que não sabem o que desejam e querem tudo ao mesmo tempo.
Para o filósofo Clóvis de Barros Filho, a palavra mais adequada para o jovem dos dias de hoje é complexidade. “Tentar reduzi-lo a qualquer tendência simples de conduta, que contraste com tendências anteriores é simples, simplificador e equivocado”. O profissional é um dos especialistas presentes no documentário Mind the Gap.
A jornalista e pesquisadora especialista em consumo, Andrea Greca Krueger, reforça que é sempre desafiador para uma geração tentar entender a anterior ou a próxima. Sobretudo com mudanças tão significativas nas maneiras como elas se comunicam e relacionam. “No entanto, se levarmos em conta que os dilemas humanos mais profundos, como necessidade de pertencer, de se expressar, ser feliz e se posicionar enquanto indivíduo, permanecem universais e atemporais, o desafio não parece tão enorme assim”, afirma.
A geração anterior nunca entende a atual. Será? Você já olhou para as semelhanças?
De fato, em essência, pouco muda entre as gerações: “jovem é jovem”. O que muda é a maneira como os mesmos se relacionam com o contexto no qual estão inseridos. E toda generalização automática a respeito de qualquer geração corre o sério risco de ser rasa, como adverte o estudo Mind the Gap.
A tecnologia que surgiu nos últimos 20 anos remodelou completamente esse contexto, o que também gerou mudanças nas formas de manifestação. A conectividade, presente na vida das novas gerações, é um fator impactante nessa linguagem. Sendo assim, a atenção ao formato das mensagens transmitidas a esse público é crucial para conquistá-lo.
Mind the Gap: meio x mensagem
Entender as necessidades e os desejos da juventude têm sido objeto de estudo de muitas marcas, dos mais diferentes setores. Esse jovem, mais complexo e globalizado, tem tornado esse trabalho cada vez mais instigante. O ritmo acelerado de vida na era digital transformou completamente a forma como as pessoas estabelecem suas prioridades e o processo de troca de informações vem sendo adaptado às conveniências pessoais.
Conforme destacam profissionais e o estudo Mind the Gap, a revolução da informação deu poder e voz ao indivíduo. Permitiu que os blogs ganhassem mais leitores que meios de comunicação impressos; que youtubers tenham mais voz que apresentadores de televisão; e que aplicativos simples se tornassem dor de cabeça para grandes corporações.
Deste modo, segundo a pesquisa, o maior insight talvez esteja em dar mais atenção ao formato de transmissão de uma mensagem. O que parece simples, no entanto, tem se mostrado como uma grande barreira entre essa faixa de consumidores e as marcas.
Segundo Andrea Krueger, é preciso que as empresas entendam que o meio é a mensagem. “Marcas inovadoras normalmente não têm medo de arriscar e investem em pesquisas para balizar as decisões. Nada é feito à toa. Mas, infelizmente, esse modelo de operação no mercado ainda recai sobre uma minoria”, ressalta.
Quer respeito, argumente!
Com tantas opções, qual escolher?
Outro aspecto importante com o qual as marcas precisam se preocupar é a infinita gama de possibilidades à disposição dos jovens. Ainda que as informações estejam sempre ao alcance dos dedos (é só dar um Google!). O que escolher? Como? Quando? O fardo gerado por essa liberdade é classificado por estudiosos como o “paradoxo da escolha”.
No TED Talks: The Paradox of Choice, o psicólogo Barry Schwartz explica que a questão recai sobre a tomada de decisões. Quanto mais opções se tem, mais difícil é decidir. A liberdade paralisa e também diminui a satisfação, já que segundo o estudioso, essa infinidade de possibilidades altera a experiência em relação às escolhas feitas. Uma vez que é fácil imaginar que outra poderia ser melhor.
A pesquisadora Andrea Krueger reforça que esse é um fenômeno contemporâneo e interessante. Cabe as marcas estarem atentas a questões mais subjetivas, que envolvem o processo de compra. Em Mind the Gap a questão é levantada ao citar a Apple – uma das marcas mais admiradas entre os jovens. Quantos modelos de smartphone a empresa comercializa?
“Para convencer esse jovem, que é atingido por mais de 3 mil peças publicitárias por dia, é preciso conhecê-lo, falar sua língua, ser genuíno, ir direto ao ponto (sem enrolação) e oferecer-lhe algo que será genuinamente útil e que satisfaça a necessidade daquele momento específico de compra. Se houver possibilidade de customização, ainda melhor. Sem enganação, sem mentira, com transparência e, de preferência, barato”.
Mind the Gap – vale o play
A provocação final da agência Talent é um convite. “Ao invés de olhar para eles como o que ainda está por vir, sugerimos que passemos a olhar o jovem como retrato do que estamos vivendo agora”.
Vale a pena o play para conferir as análises e conclusões sobre quem é o jovem contemporâneo e entender mais detalhes do seu comportamento!