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A compra da fábrica da Masisa Argentina, pela austríaca EGGER, promete agitar o mercado de painéis de madeira no Brasil. Sim, o movimento realizado no país latino terá desdobramentos sobre a estratégia da Masisa em solo brasileiro.

Em comunicado ao mercado, o gerente-geral Corporativo da Masisa S.A., Roberto Salas Guzman, deu mais detalhes. “A Masisa tomou a decisão de centrar a sua atividade comercial no ramo florestal e serviços de maior valor agregado na Região Andina, América Central, Estados Unidos, Canadá e outros mercados de exportação, mantendo sua capacidade produtiva para abastecer a região do Chile e Venezuela”.

Com esta determinação, além da venda de sua planta industrial na Argentina, foi aprovada a alienação de seus ativos industriais no México e Brasil. O objetivo do Grupo Nueva, controlador da chilena Masisa S.A., é arrecadar um valor superior a US$ 500 milhões nessas operações.

No Brasil, principal produtor e consumidor de painéis da América do Sul, há outras nove companhias em operação. São elas: Arauco, Berneck, Duratex, Eucatex, Fibraplac, Floraplac, Guararapes, Greenplac (Asperbras) e Sudati.

As medidas anunciadas implicam ainda no encerramento do processo de busca de um sócio para aumento de capital. O anúncio havia sido feito ano passado à Superintendencia de Valores y Seguros do Chile.

 No Brasil, principal produtor e consumidor de painéis da América do Sul, há outras nove companhias em operação

 

EGGER na Argentina

Com 17 plantas industriais na Europa, destinadas à produção de painéis de MDF, MDP, aglomerado e OSB, além de madeira, a EGGER busca expandir sua presença internacional. A companhia atende clientes na indústria de móveis, pisos, lojas de ferragens e construção civil.

Segundo o grupo austríaco, deter um local de produção na América do Sul é vital para explorar o potencial da região. “O objetivo é se tornar um jogador importante nesse mercado”.

A compra dos ativos da Masisa na Argentina, segundo o comunicado, foi de US$ 155 milhões, livre de dívidas. A operação total será concretizada nos próximos três meses, mas as atividades florestais no país não entraram no negócio. Contudo, foi firmado um acordo para fornecimento de madeira.

“Estamos convencidos de que é um momento oportuno para investir na América do Sul”, disse Thomas Leissing, porta-voz do Grupo EGGER. “A Argentina superou seu ponto mais baixo da economia. E depois das mudanças políticas, há razão para esperar que a economia continue com sua recuperação”.

 

Com 17 plantas industriais na Europa, destinadas à produção de painéis de MDF, aglomerado e OSB, além de madeira, a fabricante Egger busca expandir sua presença internacional

 

Operação com fábrica e revendas

Hoje, a Masisa detém cerca de 35% do mercado argentino, ocupando a segunda posição em volume de negócios. Em 2016, foram registradas operações no valor de US$ 131 milhões. A planta, localizada em Concordia, tem capacidade produtiva anual de 144.000 m³ de aglomerado e 280.000 m³ de MDF. Há ainda capacidade de revestir 274.000 m³ de painéis com papel de melamina (BP) e outros 40.000 m³ com Finish Foil (FF).

A EGGER também enxerga que o modelo de atuação da Masisa no país é propício para sua estratégia. O grupo chileno detém atuação junto a indústrias e distribuidores, com canais próprios de venda para marceneiros e arquitetos. Com isso, o novo controlador também assume a rede Placacentro na Argentina, com 57 pontos de distribuição. O programa de fidelização de clientes, conhecido como Rede M, detém cerca de 9 mil membros no país.

 

A Masisa tem 10 unidades de produção no Chile, Argentina, Brasil, Venezuela e México, e uma rede de 317 lojas Placacentro

 

Masisa no Brasil

A Masisa informa que já recebeu ofertas pelas operações no Brasil e México, e que as tratativas estão em andamento e sob avaliação. A expectativa, segundo fontes consultadas pelo Habitus Brasil, é que novos desdobramentos ocorram em até seis semanas.

No Brasil, os ativos industriais incluem duas plantas. A de Montenegro (RS) tem capacidade de produzir 650 mil m³ de MDP ao ano e outros 300 mil m³ de painéis revestidos com melamina. Já em Ponta Grossa (PR), a fábrica de MDF pode produzir cerca de 300.000 m³ / ano de painéis, além de 360.000 m³ de melamina. Marcos Bicudo é o atual Diretor Geral no país, tendo sucedido Armando Shibata no final de 2016.

No México, são quatro unidades industriais para a produção de aglomerado, MDF, painéis revestidos com melamina, além de resina.

 

Masisa apresenta painéis de MDF e MDP inspirados na brasilidade. Padrões são assinados em parceria com Marcelo Rosenbaum e Paulo Biacchi, do Fetiche Design. Na foto, padrões Brita e Azulão

 

Números e expectativa da Masisa

Listada na Bolsa de Valores de Santiago do Chile, a empresa tem 10 unidades de produção no Chile, Argentina, Brasil, Venezuela e México, e uma rede de 317 lojas Placacentro nesses países, além de Colômbia, Equador e Peru. O Brasil já não conta com esse modelo de revendas, encerrado em 2015. Os ativos florestais equivalem a uma área de 198.021 hectares e, hoje, o grupo emprega aproximadamente 9 mil pessoas.

Em 2016, segundo balanço financeiro divulgado aos acionistas, as vendas anuais do grupo somaram US$ 959,8 milhões. Queda de 8,8% em relação ao ano anterior. Os cenários adversos nos países onde atua também elevaram a dívida líquida ao patamar de US$ 667 milhões. Por isso, o “movimento” da Masisa é encarado como algo positivo.

 

Em comunicado ao mercado, o gerente-geral Corporativo da Masisa S.A., Roberto Salas Guzman, explicou a decisão do grupo chileno

 

Focada em manter os negócios mais rentáveis e com as operações de venda em curso, além de redução de gastos corporativos e de investimentos em plantas industriais nos três países, a Masisa esperar reduzir rapidamente seu nível de endividamento.

Em entrevista a veículos de comunicação do Chile, Roberto Salas (foto acima) manifestou que a expectativa é reduzir as dívidas, ainda este ano, para algo próximo a US$ 180 milhões. “É brutal a diferença. É uma decisão que demonstra coragem. Entendemos que as empresas não podem se apegar ao status quo, a um paradigma de tamanho, quando sua estrutura financeira não está habilitada para isso. A decisão, então, é focar no valor agregado”, disse.