Olhe para sua fábrica e avalie como é o layout (desenho) e atual modelo de produção. Ele é organizado, com a linha de montagem ao centro, seccionadoras e esquadrejadeiras perto da porta de entrada, coladeira de bordo no final do processo e linha de pintura isolada? Ou desarrumado, sem um ciclo produtivo ou definição de processos, painéis jogados por todo canto e sem coletores de pó? Qual é a realidade da sua marcenaria hoje?
Diferente do que grande parte pode imaginar, não são apenas as indústrias de móveis que necessitam de um processo de produção bem definido. A disposição correta das máquinas e equipamentos, acompanhado de um processo logístico eficiente (com controle de estoque, programa para cortes de chapas, entre outros), é o grande passo para se obter mais produtividade, qualidade e, por consequência, lucro. E isso vale muito nas marcenarias.
Mas qual é o primeiro passo para readequar a sua produção? A resposta está em definir qual material e o tipo de móvel serão trabalhados. A marcenaria faz uso de MDF e MDP revestido ou realiza a pintura dos painéis? O mobiliário exige diferentes níveis de acabamento ou montagem? Com esse planejamento, o marceneiro pode partir para a compra de máquinas, insumos e organizar o ambiente de trabalho.
Layout – organize sua marcenaria
Para ajudar na construção de um layout produtivo, o Habitus Brasil conversou com Vasco Martins, consultor industrial e especialista na montagem de linhas de produção na SV Martins.
Um dos erros mais comuns é a disposição inadequada das máquinas e equipamentos na marcenaria. “O correto é que as máquinas sigam um layout que ajude no fluxo de produção”, explica Vasco. As máquinas que são utilizadas no início da fabricação, como as de corte, devem estar próximas ao local das chapas.
Por isso, recomenda-se que os painéis sejam armazenados preferencialmente próximos à entrada onde são descarregadas as matérias-primas. O mesmo raciocínio deve ser levado em conta até o fim da produção do móvel, com o acabamento estando mais próximo da saída. É importante lembrar que as chapas devem estar em local arejado e livre de umidade, em posição que não provoque o empenamento.
“Para aqueles que aplicam pintura em laca ou realizam acabamentos de alto brilho, é fundamental ter uma área reservada e bem acondicionada para que a peça não seja contaminada, prejudicando o acabamento. Dentro do processo do fluxo produtivo, a cabine deve estar preferencialmente próxima à área onde as peças serão embaladas”, orienta o consultor.
Os sete “pecados” do layout eficiente
1) Basear o projeto exclusivamente no conhecimento de quem opera as máquinas.
2) Iniciar o desenho pensando no prédio e não no fluxo de produção.
3) Deixar o layout por conta de produtores de equipamentos industriais. Eles são importantes aliados, mas a definição do processo depende de várias análises.
4) Não questionar os paradigmas de produção atual, replicando em maior escala os desperdícios atuais.
5) Desenhar a fábrica sem pensar na transição entre a situação atual e a futura.
6) Não prever áreas para expansão ou projetar um prédio superdimensionado.
7) Tentar fazer tudo sozinho.
Trabalhe como “gente grande”
Vasco Martins sugere que as pequenas marcenarias sempre estejam preparadas para a pior situação. Ou seja, preparadas para produzir “um móvel gigante, com muitas peças e diferentes materiais”. “O aconselhável é um layout por processos, com uma área central servindo de pulmão intermediário e também como área de montagem”, explica.
Segundo o consultor, para aqueles que já produzem alguns móveis em série (cozinhas e dormitórios, por exemplo), o interessante é pensar em um processo mais contínuo. Nesse caso, como o produto é “fixo”, o importante é ter um fluxo contínuo de produção, sendo “necessário pensar muito bem nos materiais e nos processos empregados”.
A terceirização da fabricação de algumas peças também pode ser uma saída interessante na marcenaria. Principalmente, quando essa produção não exige uma demanda constante. Isso evita custos desnecessários com aquisição de maquinário ou mesmo paradas para o setup (ajustes) de equipamentos.
Evite erros na produção e cuidado com a segurança
Sobre os erros mais comuns nas marcenarias, Martins ressalta a falta de isolamento dos processos de acabamento, principalmente no caso de pintura em relação à usinagem. Além disso, o equívoco no manuseio das peças, tendo o hábito de misturar, encostar e empilhar junto com sobras para reaproveitamento é muito comum – o que não pode acontecer.
As sobras devem estar separadas, por padrões, e identificadas, assim como os materiais novos. No texto Resíduos para uns, lucro para outros! já abordamos as possibilidades existentes para a marcenaria.
“Para melhorar a logística interna da fábrica, é preciso analisar o seu espaço interno. Ver quantos projetos podem ser tocados paralelamente e quais as máquinas e equipamentos você tem disponível”, orienta. Em relação ao estoque, por se trabalhar sob encomenda, na grande maioria dos casos, o ideal é ser o menor possível e ser de fácil acesso. “Além disso, o consumo deve ser totalmente controlado, nem que seja em papel”.
Vasco Martins chama atenção ainda para o controle da produção dos móveis. “É isso que permite realizar cálculos de eficiência, avaliar processos de logística, custos de fabricação e lucro”, detalha. “Essa análise é determinante para saber se a marcenaria está pronta para crescer”. Nesse sentido, é recomendado utilizar Ordens de compra (OC), Ordens de serviço (OS) e utilizar um quadro de controles de produção com metas e prazos.
Fique atento ainda à Norma Regulamentadora 12 (NR12), que orienta sobre os critérios de segurança na marcenaria e nas indústrias. É importante ter uma distância mínima, na média dois metros, demarcadas no chão, para que o fluxo de materiais e funcionários aconteça sem que haja riscos de acidentes.