Contrário aos detalhes supérfluos, Jasper Morrison é protagonista do movimento que preconiza uma abordagem mais sóbria ao design de produtos. Esse conceito, denominado “supernormal”, nasceu em 2006 e foi desenvolvido junto com o designer japonês Naoto Fukosawa.
Sem ironia, Morrison defende que a ligação feita com o objeto é realçada na constatação de que o normal é a condição onde algo é harmonizado confortavelmente nas nossas vidas. “É algo favorável, completamente satisfatório e sem mensagens subliminares”.
Diz ele: “O valor do objeto anônimo está em sua capacidade de lembrar a nós [que operamos no mundo do design], que no mundo real um objeto é simplesmente um objeto e que depende só dele a possibilidade de obter do usuário amor e afeto.”
Simplicidade e essencialidade
Segundo a crítica especializada, em um mundo onde muitos designers usam novas tecnologias para adicionar detalhes supérfluos aos seus móveis e objetos, o britânico faz o contrário. Ele utiliza máquinas para refinar seus projetos, criando peças que não distraem, mas que se harmonizam com o ambiente do usuário e criam uma boa atmosfera.
“Atmosfera”, inclusive, é uma palavra que Morrison costuma usar para descrever seu trabalho. Um exemplo desta filosofia está na linha Pon, para a centenária Fredericia. Esta foi a primeira colaboração do profissional com uma empresa da Dinamarca.
De acordo com a marca, Pon é uma série de mesas laterais de madeira maciça, em diferentes tamanhos e versáteis. As mesas podem ser usadas como mobiliário autônomo ou combinadas em diferentes alturas. No descritivo da coleção, a empresa diz que mesmo as mesas menores – modestas em tamanho –, são grandes o suficiente para um livro, copo ou uma bandeja.
“O desenho deve ser sempre melhor daquele que veio antes”
Coleção Pon, por Jasper Morrison
O designer descreve a série Pon como uma alternativa para as mesas de café. Em vez de ocupar espaço, as mesas podem ser usadas na frente de um sofá ou ao lado de uma cadeira baixa. O diâmetro das mesas varia entre 30, 40, 45 e 90 cm, e a altura de 36 a 46 cm. A solidez das peças garante seu uso em diversos espaços, incluindo lobbies de hotéis, galerias de arte e áreas de salão público.
“Nossos espaços de vida têm cada vez mais que acomodar uma ampla gama de atividades. Do relaxar com um livro ou jornal ao trabalho com laptop e também para assistir filmes em um tablet. Ou ainda para encontros sociais de todos os tipos, onde alimentos e bebidas são servidos”.
Conhecido pelo desenho minimalista e formas simples, as mesas desenhadas por Jasper Morrison não apresentam distinção usual entre tampo, coluna e pé. Tudo está integrado. “São como esculturas em qualquer sala, além de que a madeira maciça sobreviverá lindamente ao longo do tempo”, destaca a marca dinamarquesa.
Foco na função e uso, e design supernormal
Também para a Fredericia, o designer inglês desenhou a série Taro. A proposta é que os três modelos concebidos de mesas de jantar e reunião cumpram com sua função diária e de uso. Taro foi projetada em três tamanhos para combinar com diferentes ambientes: cozinha, sala de jantar ou sala de reuniões.
Mesmo em sua maior versão, a mesa é feita com carvalho maciço sem nós. A ideia é criar um olhar rústico, mas extremamente refinado.
Em consonância com a filosofia de Morrison temos ainda o sofá Kile de 2 e 3 lugares. As peças foram projetadas para se misturar perfeitamente em casa ou em espaços públicos.
“Objetos discretos são mais bem-sucedidos na construção da boa atmosfera”
Jasper Morrison – designer multidisciplinar
Com formação em Londres (Inglaterra) e Berlim (Alemanha), o designer carrega a influência destas duas escolas em seu trabalho, e tem um importante papel na moldagem do mundo contemporâneo do design.
Seus desenhos únicos, além da capacidade multidisciplinar, projetaram o profissional desde a abertura do seu estúdio na capital inglesa, em 1986. Além de livros, é autor de diversos móveis, que incluem cadeiras, cozinhas, luminárias, mesas e sofás. Já falamos dele nesta reportagem: Mobiliário simples e eficiente, sem banalidades.
Morrison tem ainda projetos de calçados, têxteis, eletrodomésticos e utensílios de cozinha, além de interiores. Em Hannover, na Alemanha, projetou um bonde elétrico (1997) – tendo recebido diversos prêmios pelo novo sistema de transporte.
Atualmente, divide seu tempo entre estúdios em Londres, Tóquio (Japão) e Paris (França). E projeta e presta consultoria para uma ampla gama de clientes: Alessi, Cappellini, Flos e Magis, na Itália, Muji e Maruni Wood, no Japão. Acima, no vídeo, confira a produção da cadeira Lotus para Cappelini.
A lista inclui também Rowenta (França), Vitra (Suíça), Samsung (Coreia) e Ideal Standard (Reino Unido). Desde 2010, colabora igualmente com as empresas espanholas Camper, Kettal e Andreu World, e com as norte-americanas Maharam e Emeco.