Basta colocar os pés em Milão, na Itália, para acompanhar o iSaloni e já se entende o porquê da cidade ser considerada a meca do design. A arquitetura clássica em contraposição às big stores, mesclando elementos góticos e românticos dos séculos passados à tecnologia, escancaram o desenvolvimento e a história do design.
Nesse ambiente, o exercício de compreensão de tendências já começa nas ruas, demonstrando como os hábitos urbanos e o habitar estão entrelaçados. E o que se viu neste ano foi um desfile de sobriedade e conforto, em uma elegância moderna e meticulosamente despojada, que podem ser facilmente transportadas para dentro dos estandes nos pavilhões de exposição da Fiera Milano Rho – palco do Salão Internacional do Móvel de Milão ou iSaloni, como também é conhecido o evento.
iSaloni 2016: vale tudo!
A ideia é se expressar sem medo, explorando referências e mostrando que tudo é válido – influências externas, novos usos e significados aos móveis, diferentes combinações, personalização de materiais e expressão de crenças, preferências e valores. É a casa como uma extensão das identidades sociais e do mundo exterior, o hyperworld.
É nessa busca que a sobriedade do casual black e a neutralidade dos tons cinza, vistos nas ruas e vitrines, dominaram os móveis, justamente pela versatilidade de combinações proporcionadas. Como na pegada rock’n’roll dos móveis da Diesel Living, na sensualidade da Boiserie ou na delicadeza da Arte Veneziana.
Os móveis estão mais funcionais, respeitando-se o conceito cada vez mais crescente de lofts e soluções inteligentes, com muitas peças soltas proporcionando a customização dos espaços. Destaque aos acessórios que apareciam com glamour de peças metalizadas em tons dourado, prata e cobre, em puxadores, pequenos filetes em mesas e estantes ou em imponentes lustres e abajures.
O vidro, seja transparente, opaco, colorido ou metalizado, aparece em diferentes peças e acessórios e foi uma das grandes tendências – veja reportagem sobre esta influência. O alumínio foi outro material bastante utilizado.
Natureza integrada
Um exemplo dessa linha orgânica seguida por muitos designers foi apresentada pela Gervasoni. A casa imaginada por Paola Navone para introduzir a mais nova coleção da marca era banhada de luz, em um espaço arejado e com tons sutis de branco e cinza, que chamava a atenção para as texturas dos materiais naturais e às tramas e granulações dos tecidos, como o algodão.
A Casamania transformou seu estande em um alegre recanto de pássaros com muitos materiais e cores naturais, além de muitas plantas – quase que uma máxima entre os expositores, apontando que jardins verticais, vasos e o clima tropical deverão ditar a decoração de interiores, mesmo os mais sóbrios.
A madeira natural apareceu estrelando poros sincronizados e combinando-se a padrões unicolores. As fibras naturais, como o rattan, também apareceram, bem como o mármore que, além da tonalidade acinzentada clássica, estava em azul, preto, verde e até vermelho.
E como falar desse retorno ao natural sem citar a participação brasileira na feira? Como a da Butzke, que trabalha exclusivamente com madeira nativa, como o Cumaru, certificada pelo FSC®. O que também remete a utilização de materiais alternativos para a concepção de móveis, como da marca A Lot Of Brazil: couro de pirarucu, madeira líquida e até acerola e bambu injetados. Demonstrando que além do visual, a preocupação ecológica ganha um importante papel no processo de criação.
A “nostalgia das coisas”
A busca pelo conforto, aconchego e relaxamento – como antídotos contra as tensões –, pode ser traduzida na aposta forte por releituras de peças dos anos 50, 60 e 70. Pés palitos, cortes arredondados, tecidos com estampas geométricas, capitonês e botonês voltam com força aos lares modernos, em uma roupagem simples e elegante em espaços modernos e funcionais, ditando o design contemporâneo.
O couro aparece com força, especialmente em estofados, com costuras aparentes e em cores terrosas, como marrom, laranja, canela e tijolo. Em relação as cores, ainda, é importante citar o retorno dos tons pastéis – como o Rose Quartz e o azul Serenity, selecionados como as cores do ano pela renomada Pantone. O azul petróleo e variados tons de verde também deverão ditar os projetos de design de interiores.
A 55ª edição do iSaloni contou com a participação de 2407 expositores, que apresentaram muitas das novidades que devem impactar o morar no biênio 2016/17
EuroCucina
Este ano, o evento também contou com a aclamada exposição EuroCucina, destinada exclusivamente ao segmento de cozinhas e que ocorre a cada dois anos junto ao iSaloni. As palavras-chave neste ano foram: elegância, praticidade, abertura e integração, resultando na cozinha living, que convida à convivência.
A Fendi, por exemplo, apresentou tampos de pedra que com apenas um toque escondem e revelam pias e fogões. Enquanto paredes tecnológicas escondem outros eletrodomésticos. As mesas de jantar extensíveis – clássicos do passado – também voltaram mais modernas e dinâmicas, oferecendo, inclusive, gavetas para utensílios, como talheres.
A onda gourmet estava presente em armários como os da Dada, com portas dobráveis que deslizam para dentro de compartimentos laterais, deixando a bancada toda acessível. Em projetos de cozinhas residenciais com tecnologia de grandes restaurantes, como o da Officine Gullo, ou em bancadas mais largas com compartimentos traseiros para utensílios e abertura por toque, como as da Valcucine. Sem falar da tecnologia em eletrodomésticos que se conectam a aplicativos e transformam a cozinha em um verdadeiro laboratório de experimentações.