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Resposta às crescentes mudanças nos perfis de consumo, uma nova revolução está emergindo no setor industrial em todo o mundo. A chamada Indústria 4.0 pega carona no avanço tecnológico, combinando componentes físicos e digitais para otimizar e integrar o processo produtivo. No setor moveleiro, como em qualquer outro, os impactos devem ser significativos. O que vai exigir uma total readequação do modelo de negócio – do chão de fábrica à gestão.

Impactos esses que se por um lado representam desafios, por outro, trazem uma soma considerável de vantagens. Segundo esse novo conceito, já proclamado como a “quarta revolução industrial”, as empresas trabalharão de forma totalmente conectada. Assim, farão uso das principais frentes da tecnologia atual: Internet das Coisas (IoT), Sistemas Ciber-Físicos, Biologia Sintética e Internet de Serviços. Nesse contexto de integração, os sistemas produtivos serão mais eficientes, customizáveis e, principalmente, autônomos.

Em resumo, as 3 primeiras revoluções industriais trouxeram a produção em massa, as linhas de montagem, a eletricidade e a tecnologia da informação. Essa nova revolução, que terá um impacto ainda mais profundo e exponencial, se caracteriza por um conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e biológico.

 

A quarta revolução industrial, que terá um impacto mais profundo e exponencial, se caracteriza, por um conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e biológico na indústria

 

Integração e customização na Indústria 4.0

A incorporação dessas tecnologias possibilita que máquinas “conversem” ao longo das operações industriais. “Isso permite a conexão das diversas etapas da cadeia de valor. Do desenvolvimento de novos produtos, projetos, produção até o pós-venda”, explica o especialista em políticas e indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Vinícius Fornari.

Além disso, os dispositivos localizados em diferentes unidades produtivas, inclusive de empresas diferentes, podem trocar informações instantaneamente sobre compras e estoques. Isso permite otimizar a logística por meio da conexão entre fornecedores, empresas e clientes. Ou seja, uma integração horizontal da produção.

Essa horizontalidade abre caminho para a chamada “customização em massa”. Aliás, individualização, exclusividade e o envolvimento dos consumidores no desenvolvimento de produtos e serviços já é uma realidade – ainda que pequena. Grandes eventos do setor moveleiro, como Domotex, Heimtextil e o Salão do Móvel de Milão já levantaram essas bandeiras. Tudo isso implica na maneira como os produtos são concebidos.

A comunicação instantânea entre diferentes elos da cadeia produtiva, além da flexibilidade e da individualização de recursos na denominada “fábrica inteligente”, possibilitam a produção de bens customizados. Tudo de acordo com as preferências ou necessidades de diferentes consumidores. “Isso gera um grau de eficiência que, até pouco tempo, só era possível com a fabricação massificada de bens”, ressalta Fornari.

 

Os impactos da Indústria 4.0 sobre a produtividade, a redução de custos, o controle sobre o processo produtivo, a customização da produção apontam para uma transformação profunda nas plantas fabris

 

Indústria 4.0 no Brasil: realidade distante?

Na opinião do especialista da CNI, porém, a implantação dessa estratégia no Brasil ainda é incipiente. Quadro que não é muito diferente do que observamos em outros países. Afinal, estamos falando de um fenômeno relativamente novo, que começa a tomar forma na Alemanha.

No Brasil, uma sondagem especial sobre a Indústria 4.0 realizada pela CNI em 2016 (dado mais recente), mostrou que o conhecimento da indústria brasileira sobre tecnologias digitais e a sua incorporação à produção, é pouco difundido. Contudo, isso é pré-condição para o avanço da Indústria 4.0.

Do total das indústrias, 58% conhecem a importância dessas tecnologias para sua competitividade e menos da metade as utiliza. A pesquisa ouviu 2.225 empresas, sendo 910 pequenas, 815 médias e 500 grandes. Clique aqui para ter acesso ao material completo.

“O Brasil não só tem condições de pôr em prática o conceito de Indústria 4.0, como tem a obrigação de fazê-lo. Para muitos setores, essa é a única forma de se manter competitivo no longo prazo”, avalia Vinícius Fornari. Ele ressalta que o País tem uma base industrial diversificada, com empresas com competências em áreas-chave para esse novo momento.

 

As principais tecnologias da Indústria 4.0 permitem a fusão dos mundos físico, digital e biológico

 

Indústria 2027

Outra iniciativa da CNI, o Projeto Indústria 2027, realizou uma pesquisa no ano passado com mais de 700 empresas. Apenas 1,6% delas opera com processo produtivo totalmente digitalizado. No entanto, em 10 anos, a expectativa é que esse percentual salte para 21,8% das indústrias.

Nesta ação, a entidade lista ainda oito tipos de tecnologias com efeitos na produção industrial. São elas:

  • 1. Internet das Coisas. Objetos que, integrados por sensores conectados à internet, realizam ações sozinhos.
  • 2. Produção Inteligente. Processos de produção na indústria física passam a ser controlados virtualmente.
  • 3. Inteligência Artificial. Tecnologias inspiradas no modo como o ser humano usa o sistema nervoso e o corpo para sentir, raciocinar e agir.
  • 4. Tecnologias de Redes. Transportam dados, informações e possibilitam aproveitar melhor as outras tecnologias digitais.
  • 5. Biotecnologia e Bioprocessos. Obtenção de produtos e processos, como vacinas e novos medicamentos, manipulando seres vivos.
  • 6. Nanotecnologia. Em uma escala nanométrica, é possível modificar características de materiais ou construir novos.
  • 7. Materiais Avançados. Materiais melhorados ou novos materiais que têm propriedades e aplicações diversas.
  • 8. Armazenamento de Energia. Tecnologias que contribuem para o uso inteligente de fontes de energia renováveis e para a sustentabilidade.

Veja mais detalhes e os impactos dessas inovações na indústria e na sociedade na página oficial do projeto. Como se vê, os impactos da Indústria 4.0 sobre a produtividade, a redução de custos, o controle sobre o processo produtivo, a customização da produção, dentre outros, apontam para uma transformação profunda nas plantas fabris. Abaixo, uma marcenaria que opera de forma totalmente autônoma, composta por duas células automatizadas e interligadas.

Revolução industrial no setor moveleiro

Nas fábricas moveleiras, a implementação da Indústria 4.0 deverá ocorrer a partir dos grandes players do mercado, mas aos poucos. “Nossa economia está começando a se recuperar. É difícil para o empresário pensar em qualquer tipo de investimento num mercado instável”, opina Vasco Martins, diretor da SV Martins – consultoria e engenharia industrial.

Na outra ponta, pequenas fábricas, como as marcenarias, ainda estão a volta com a NR-12 – Norma Regulamentadora de máquinas e equipamentos com vista à segurança no trabalho. “Quem dirá pensar em investimento em tecnologia?”, questiona Martins.

Já em relação aos custos altos da implementação de maquinário e aporte tecnológico que coincidam com o conceito de Indústria 4.0, o consultor industrial explica que isso “depende do ponto de vista”. “Gosto de encarar qualquer situação que traga retorno financeiro como investimento. Então, a pergunta certa a fazer é ‘quanto isso vai me trazer de retorno’?” Essa adequação aos novos tempos dependerá, portanto, especialmente do estágio atual da organização.

“Para a maioria das empresas, o processo será gradual e customizado. Dependendo dos investimentos realizados e da capacitação tecnológica e produtiva já existentes. Implementando-se sensores e softwares em máquinas e equipamentos em uso”, aponta Vinícius Fornari, da CNI. Em outros casos, como o caso da manufatura aditiva, no entanto, haverá a necessidade da compra de novos bens de produção.

No Brasil, empresas como Homag, SCM Tecmatic e Biesse já lideram estudos e ações de automação. Ambas são fornecedoras de máquinas e tecnologia para a indústria de móveis. 

 

Os impactos da Indústria 4.0 sobre a produtividade, controle fabril e customização, apontam para uma transformação profunda no setor moveleiro

 

Máquinas autônomas x trabalho humano

Outro assunto muito importante – e polêmico! – quando falamos na chegada da Indústria 4.0 é a manutenção do trabalho humano nas fábricas. “Há muita especulação sobre o tema. É uma preocupação natural, que também aconteceu nas três revoluções industriais que antecederam a Indústria 4.0”, aponta Fornari. “Em todas elas, contudo, houve desaparecimento gradual de empregos de pouca qualificação e muito esforço físico. Mas surgiram empregos de maior qualidade e com remuneração mais alta.”

Na opinião de Vasco Martins, o que veremos é uma mudança na característica do funcionário. “Ele terá que ser multidisciplinar, mais capacitado. Terá que estar adaptado a nova realidade de mercado.” Ele explica que essa mesma mudança aconteceu com a introdução dos robôs, da energia elétrica, dos computadores, do Comando Numérico Computadorizado (CNC) nas máquinas. “É mais uma evolução da humanidade. Todos terão que se adaptar, desde os funcionários até os empresários. Ou seja, é preciso uma nova mentalidade nas empresas.”

Diante desse quadro, Vasco explica que é necessário saber quem são os parceiros tecnológicos e de negócios, e como eles podem contribuir nessa jornada para a Indústria 4.0. Por fim, o consultor sugere: “Testar, avaliar, debater e construir consensos por meio da validação de projetos-piloto e medidas experimentais”.