O Airbnb é uma das startups que transformaram segmentos de mercado nos últimos anos. A plataforma de hospedagens alternativas alterou o ecossistema de acomodações para o turismo e a hotelaria mundial. Mas sua entrada no mercado também está causando mudanças nas atitudes em relação ao design. Afinal, não são poucas as moradias que oferecem muito mais conforto e harmonia do que um quarto ou lobby de hotel.
Em 2014, durante o Festival de Design de Londres, a designer Ilse Crawford já dizia que o Airbnb estava tornando o design mais acessível e reduzindo a sensação de intimidação que as pessoas tinham em relação à arquitetura e interiores contemporâneos. “A plataforma ajudou a mudar nossa ideia do que é o design, porque deixamos de vê-lo como algo espetacular e ambicioso – presente apenas em revistas de decoração”, disse ela.
Presente em mais de 65 mil cidades de 191 países, o Airbnb está avaliado em US$ 30 bilhões e oferece mais de 3 milhões de acomodações, como preços variados. Isso tudo, sem ser proprietário de um único imóvel. No Brasil, estima-se, são mais de 100 mil ofertas. Em comparação, a rede Marriott, avaliada em US$ 17 bilhões, disponibiliza pouco mais de 1 milhão de apartamentos em 110 países.
O fato é que a plataforma, no seu início (2008), não atingia o cliente típico de hotel, mas viajantes ocasionais (mochileiros), que na maioria das vezes dormiam na casa de familiares ou amigos. Mas há uma clara alteração do perfil desse consumidor. Hoje, ela já se estende para a clientela de turistas de lazer e de negócios que, em função de custos menores, localização e instalações completas, trocam as “salgadas” diárias de hotéis pelo aluguel de moradias via aplicativo.
Acima, moradia disponível para locação na Cidade do Cabo, capital da África do Sul. Abaixo, destino localizado na Ilha de Santorini, na Grécia.
Nova estratégia para a rede hoteleira
Para manter uma fatia da acomodação de turismo, que movimenta vários bilhões de dólares no mundo, muitas redes adotaram a estratégia de hotel design ou hotel boutique. Quanto mais cenários propícios para o Instagram ou criar uma lembrança memorável, melhor. Seja um restaurante subaquático, arquitetura surreal, suítes temáticas ou uma experiência gastronômica premiada. A ideia é criar experiências.
Essa foi a estratégia da cadeia hoteleira internacional Room Mate Hotels. A 22ª unidade do grupo foi inaugurada em Milão (Itália), sob o comando de Patricia Urquiola. O empreendimento tem um total de 85 quartos que foram desenhados com um toque vintage e fortes elementos de contraste. O rosa, o verde e os tons de azul, além de materiais tradicionais e os móveis de grife são os principais aspectos do Hotel Giulia.
A proposta da rede traz ainda duas mensagens claras: “Cada hotel, um mundo” e “Sinta-se em casa. Queremos mimar você”. Confira uma galeria de fotos neste link.
No entanto, chama a atenção o novo conceito de design da rede Intercity Hotel 2.0, que vai em direção contrária a esses “truques”. Sob a supervisão do escritório italiano Matteo Thun & Partners, o grupo está promovendo uma revisão do seu design de interiores. A estratégia teve início neste ano, em duas unidades na Alemanha, e será ampliada para as demais unidades progressivamente.
“Essa revisão descarta efeitos WOW superficiais e de curta duração”, pondera o diretor-gerente da rede, Joachim Marusczyk.
Intercity Hotel: “normal” e atemporal
Segundo o arquiteto e designer Matteo Thun, a proposta evidencia um design atemporal. “Estamos tentando entender nosso mundo contemporâneo sem estilos de vida ou tendências rápidas, enquanto muitos hotéis perseguem um ‘design moderno’. Para nós, o design não é apenas algo visual, nem uma questão de zeitgeist”, afirma.
O grande valor do novo design reside na sua “normalidade”. Na visão da equipe de profissionais, era preciso criar uma atmosfera familiar – quase como uma casa –, estimulando a satisfação do hóspede em passar mais tempo no hotel. Para isso, todas as áreas comuns incorporaram materiais naturais e uma paleta de cores sóbria. O mobiliário traz madeira de carvalho, couro real e latão.
Vale lembrar, o Airbnb atua sob a bandeira: “Reserve acomodações únicas e vivencie a cidade como um morador local”. E quem aí se lembra do Airbnb Trips? O aplicativo já ampliou suas funcionalidades de propiciar acomodações com três áreas-chave: Experiências, Lugares e Viagens.
A promessa de “durabilidade estética e técnica” também foi um fator decisivo para o novo conceito. “O objetivo é que o Intercity Hotel 2.0 mantenha uma vida útil por pelo menos 12 anos”, declara a equipe de design. Na disposição dos ambientes, percebe-se uma nova visão de lobby, onde a recepção perde destaque para áreas de convívio.
O bar e restaurante, com nova configuração de mesas, cadeiras e bancos, pode receber diferentes grupos ao longo do dia. Já os quartos trazem mapas turísticos nas paredes – um mimo que pode facilitar o planejamento dos turistas.
Matteo Thun tenta responder a tendências rápidas e de consumo constante com simplicidade e sustentabilidade. “Para um design atemporal, nós projetamos coisas que as pessoas podem entender intuitivamente. Trata-se de simplicidade e clareza, com equilíbrio visual. O novo design gera e aprofunda a relação entre o hóspede e marca”, diz.