Não é de hoje que a natureza e seus diversos elementos inspiram novos projetos de mobiliário e de arquitetura. Contudo, cresce o número de profissionais que defendem a utilização da natureza apenas como um exemplo e fonte de inspiração, e não mais de apropriação dos seus recursos. Esse também é o princípio da biomimética, que ganha força no design.
A biomimética é a área que estuda os princípios criativos e estratégias da natureza, visando a criação de soluções para problemas atuais da sociedade, unindo funcionalidade, estética e sustentabilidade.
O crescimento da tecnologia de impressão 3D, com o surgimento de novas máquinas e materiais, também contribui para o avanço desse conceito – relativamente novo, mas que conceitualmente surgiu no início dos anos 2000. Assim, a impressão 3D deixa de ser uma ferramenta de prototipagem para se tornar uma ferramenta de fabricação digital de móveis.
Biomimética com impressão 3D
No segmento de móveis, a designer holandesa Lilian van Daal é uma das profissionais que vem estudando a aplicação da biomimética. Investigando métodos de produção alternativos para móveis estofados, que dependem da utilização intensiva de recursos e mão de obra, ela afirma que o conceito, aliado à impressão 3D, pode substituir técnicas tradicionais de fabricação.
“Um assento macio geralmente consiste de vários materiais diferentes, colados uns aos outros, o que é um problema para a reciclagem de um produto”, explica Lilian. “Você também precisa de cinco ou seis fábricas diferentes para produzir um móvel estofado convencional. Mas com a impressão 3D, você pode produzir localmente e não há desperdício de material no processo de produção”, acrescenta a designer.
Em 2015, durante o Dutch Design Week, na Holanda, Lilian apresentou protótipos de uma cadeira denominada Biomimética, que, apesar de ser impressa totalmente em plástico, apresentava um assento flexível e uma base rígida. A designer conta que foi capaz de criar estas zonas de variação de rigidez imitando estruturas celulares de plantas.
“Na natureza, um material cresce em diferentes estruturas e é assim que as funções são criadas”, explica ela, acrescentando: “A cadeira é feita de nylon e quando você ajusta a estrutura, é fácil criar diferentes zonas de flexibilidade e reproduzir essas estruturas complexas”.
A origem da biomimética vem do grego bios (vida) e mimesis (imitação)
Indústria interessada
Os estudos de Van Daal prosseguem e ela ainda pretende desenvolver pesquisas sobre o uso de materiais biológicos, ao invés de plástico. Contudo, já há interesse da indústria no produto e conceito biomimético. Em outubro passado, ela venceu o Volvo Design Challenge, na Alemanha.
Na ocasião, os membros do júri expressaram sua surpresa com a alta qualidade da proposta da designer. “Nós sentimos que o conceito de Lilian tem uma visão clara sobre o futuro e reúne três importantes aspectos: modernidade, inovação e manuseio de material”, dizia o veredito, citando ainda a estética do produto e as perspectivas que se abrem para a indústria.
Lilian van Daal examinou se o assento convencional do carro (composto por materiais como metais, plásticos e espuma) poderia abrir caminho para uma alternativa reciclável. Para isso, pesquisou materiais e técnicas de impressão que permitissem reproduzir estruturas naturais com detalhes e em grande escala.
O resultado final foi um assento de carro feito de madeira de pinho – um material natural e abundante na Suécia –, e que traz a abordagem da biomimética (emulando padrões da natureza) com a impressão 3D.
Arquitetura sustentável
A arquitetura biomimética também é uma corrente contemporânea que busca soluções sustentáveis na natureza, principalmente ao levar em consideração as normas que a regem
Segundo o arquiteto norte-americano Dennis Dollens, um dos mais renomados profissionais nessa área, a biomimética não consiste em propor formas de aproximação orgânica à arquitetura, ou de reinterpretar poeticamente a natureza. “Não se trata de desenvolver metáforas arquitetônicas da natureza”.
“Não penso que os edifícios tenham que se assemelhar a plantas ou organismos biológicos, mas acredito que podem funcionar como eles: podem mover-se, transferir ar e umidade, filtrar poluição, reorientar suas peles, modificar o calor e o frio…”, finaliza Dollens.