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“Meu trabalho reflete o design na forma mais essencial, onde o que o caracteriza é o processo. O produto é consequência”. Assim o designer Bernardo Senna define seu processo de criação. E completa: “Para mim não importam as condições, qual o mercado, tecnologias ou matérias-primas… Trabalho de acordo com o contexto”.

A versatilidade, aliás, é uma das principais associações ao nome do designer carioca, formando em design de produto na UFRJ em 1997. De lá para cá, Bernardo Senna coordenou o Centro Design Rio e firmou parcerias com inúmeras marcas, como Tok&Stok, Madesol, Schuster, Componenti, Trama Fhina, Moora Mobília Brasileira, Prima Design e Maze (Suécia).

Com um vasto portfólio de móveis assinados, Senna também já foi agraciado com prêmios importantes, como Salão Design Movelsul e do Instituto Europeu de Design (IED), entre outras premiações e menções honrosas em concursos de design.

Essa atuação, associada ao seu desenho lúdico e surpreendente, além da incessante busca por usos inovadores de tecnologias conhecidas, também rendeu convites para exposições internacionais na Maison & Objet, em Paris (França), Brazil S/A e Projeto Raiz – ambas no Fuorisalone, em paralelo ao Salão Internacional do Móvel de Milão, na Itália.

 

 

O designer carioca Bernardo Senna

 

Estilo contemporâneo

Uma das recentes ações do profissional é o lançamento da coleção “Orb + Bernardo Senna” em parceria com a loja de e-commerce Submarino. Sob o tema “design para a vida real”, a coleção de móveis retrata a personalidade irreverente do designer e caracteriza-se pela estética inovadora, além de serem leves e fáceis de montar.

A coleção é composta pelas peças Mesa Floresta Orb, Mesa Swing Orb, Mesa Vera Orb e Banqueta Wanda Orb nas cores cromado, amarelo, vermelho e branco.

“As peças têm caráter gráfico, que remetem aos clássicos do design moderno, como os modelos Bertoia Side Chair e a Eames Wire Chair. Ao mesmo tempo, trazem formas contemporâneas à sala de jantar, cozinha ou escritório”, diz Senna.

De acordo com o site Submarino, novos designers devem ser convidados para assinar coleções, e a proposta de estilo da Orb é apresentar móveis modernos, funcionais, com detalhes precisos e cores irreverentes para atender aos clientes mais descolados.

 

Bernardo Senna assina coleção de móveis para a Ober, marca de móveis para decoração da loja Submarino

 

Projeto Acre, Made in Amazônia

Outra iniciativa que tem o envolvimento de Bernardo Senna é o projeto Acre, Made in Amazônia, cujo trabalho derivou para o desenvolvimento de móveis sustentáveis e inspirados na cultura local ao aproveitar as riquezas naturais da Floresta Amazônica. O Buffet Jatobá, foto abaixo, é uma das peças da coleção.

A primeira etapa, lançada em 2014, tinha como premissa criar bases para o desenvolvimento de um polo moveleiro no Acre.

 

Buffet Jatobá, desenvolvido por Bernardo Senna e Emmanuel Gallina para o Projeto Acre, Made in Amazonia

 

Com a evolução da ideia, Bernardo Senna, o designer francês Emmanuel Gallina e profissionais do Poli.Design, do Consórcio Politécnico de Milão, coordenaram a criação de cinco linhas de mobiliário: Palafita, Jatobá, Empate, Yuxin e Estrela, que fazem referência à cultura e à história locais. O trabalho teve a colaboração de arquitetos, marceneiros e artistas locais, e as madeiras utilizadas – Cedro, Cerejeira, Cumaru-Ferro, Itaúba, Jatobá e Tauari – foram devidamente certificadas e manejadas por pequenos produtores.

Em sua terceira etapa, o projeto Acre e seus móveis foram apresentados durante a primeira edição da feira High Design, de 9 a 11 de agosto, em São Paulo. Iniciativa do governo do Acre por meio da Secretaria de Desenvolvimento, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), a proposta também tem como parceiros o Sebrae, o Sistema Fieac e o Instituto Dom Moacyr.

 

 

Bernardo Senna – identidade cultural

 

Com está sua participação no projeto Acre, Made in Amazônia? 

Acredito que fui convidado para participar desse projeto pela minha experiência anterior, em que lidava diretamente com diversas indústrias brasileiras. Minha participação foi, portanto, na ligação do trabalho de design tão sofisticado que foi feito pela equipe do POLI.design com a realidade local. Desta forma, conciliamos as expectativas do Governo, instituições e empresários com as possibilidades do mercado.

 

Qual a importância dessa ação em sua carreira? De alguma forma influenciou ou mudou algo na sua produção?

Foi uma oportunidade de realizar um projeto de desenvolvimento econômico e social. O design é apenas uma parte, aliás, como os projetos deveriam ser idealmente, partindo de uma demanda concreta, passando pela pesquisa e desenvolvimento até a preparação para um bom desempenho comercial. No dia a dia, assim como outros designers, o meu trabalho é bem mais pontual, não tão integrado como foi nessa oportunidade.

 

Como está sendo a comercialização das peças e quais ações ainda estão previstas?

O projeto se completa com o início da comercialização dos produtos, em lojas de várias cidades após a realização da feira High Design. As empresas foram preparadas por técnicos, profissionais do Senai e outras entidades para atender ao mercado. Com o sistema em funcionamento, poderão desenvolver novos produtos com o Emmanuel Gallina, comigo ou outros designers, conforme as demandas das lojas se encaminharem.

 

Autêntico e sustentável

O seu desenho tem sempre algo de inusitado e lúdico. Como imprimir essa personalidade aos móveis?

O projeto Acre foi uma oportunidade rara, onde os designers puderam participar e opinar em todo o processo. No meu caso, trabalho sozinho 90% do tempo, então meu processo é bem particular. Ele está mais ligado à busca por uma intensa cultura visual e de processos de fabricação, do que de elementos. Diferentemente da ação no Acre, os clientes geralmente não têm uma diferenciação natural tão forte, e cabe aos designers ajudar as empresas a criá-la.

Que papel a sustentabilidade tem em seu trabalho? 

Bons projetos devem ser naturalmente sustentáveis, tanto quanto funcionais e atraentes. Nenhum desses fatores deve prevalecer, a menos que seja o objetivo principal do projeto.

 

Sustentabilidade é consequência de um projeto bem feito.

 

Poltrona Brasiliana e Cadeira Ratoa, com design de Bernardo Senna
Design Bernardo Senna: Poltrona Brasiliana e Cadeira Ratoa

 

Processo de criação

Como é seu processo criativo e como a brasilidade se expressa em suas peças?

Basicamente mantenho na cabeça os briefings de dois ou três clientes e vou desenhando todos os dias, no metrô, vendo televisão, em diversas situações. Quando acredito que tenho ideias maduras, faço um modelo 3D no computador. Se aprovado, já gero os desenhos técnicos. Não vejo brasilidade no meu trabalho; normalmente, procuro isso apenas se for uma demanda do projeto. Entretanto, entendo que design brasileiro é o design feito no Brasil ou por brasileiros no exterior, o contexto nos influencia e define inconscientemente.

Quando fiz os primeiros projetos para um cliente na Suécia, notei que o resultado era um híbrido. Tinha algo que não era escandinavo, mesmo usando a linguagem e tecnologia da marca. O resultado tinha um tipo de originalidade. Acredito que isso está relacionado à nossa necessidade de produzir com menos recursos, e dá um resultado diferente do que se fosse concebido por um sueco com o mesmo briefing.

 

Design de Bernardo Senna para a Maze, da Suécia

 

Quais são, em sua opinião, os maiores desafios enfrentados pelo design brasileiro?

Creio que devemos parar de reclamar de impostos e logística e atuar onde podemos de fato fazer alguma coisa. Também é importante melhorar a comunicação com a indústria, convencendo-a da importância de fazer protótipos para desenvolver bem os produtos, de modo que tenham um custo adequado e sejam produzidos corretamente – evitando desperdícios. Normalmente focamos nos problemas de modo paralisante, mas todos têm seus problemas e as condições são similares. Devemos, então, fazer o que os outros não fazem para ter resultados.